Olá, queridos alunos do 2º ano. Vamos ler um pouco!?
Após entendermos quais são as características do Realismo, é hora de vermos como isso se dá na prática.
Segue-se um fragmento do conto O escrivão Coimbra, do escritor realista Machado de Assis.
[...] Aparentemente há poucos espetáculos tão melancólicos como um ancião comprando um bilhete de loteria. Bem considerado, é alegre; essa persistência em crer, quando tudo se ajusta ao descrer, mostra que a pessoa é ainda forte e moça. Que os dias passem e com eles os bilhetes brancos, pouco importa; o ancião estende os dedos para escolher o número que há de dar a sorte grande amanhã, – ou depois, – um dia, enfim, porque todas as coisas podem falhar neste mundo, menos a sorte grande a quem compra um bilhete com fé.
Não era a fé que faltava ao escrivão Coimbra. Também não era a esperança. Uma coisa não vai sem a outra. Não confundas a fé na Fortuna com a fé religiosa. Também tivera esta em anos verdes e maduros, chegando a fundar uma irmandade, a irmandade de S. Bernardo, que era o santo de seu nome; mas aos cinquenta, por efeito do tempo ou de leituras, achou-se incrédulo. Não deixou logo a irmandade; a esposa pôde contê-lo no exercício do cargo de mesário e levava-o às festas do santo; ela, porém, morreu, e o viúvo rompeu de vez com o santo e com o culto. Resignou o cargo da mesa e fez-se irmão remido para não tornar lá. Não buscou arrastar outros e nem obstruir o caminho da oração; ele é que já não rezava por si nem por ninguém. Com amigos, se eram do mesmo estado de alma, confessava o mal que sentia da religião. Com familiares, gostava de dizer pilhérias sobre devotas e padres.
Aos sessenta anos já não cria em nada, fosse do céu ou da terra, exceto a loteria. A loteria, sim, tinha toda sua fé e esperança. Poucos bilhetes comprava a princípio, mas a idade, e depois a solidão, vieram apurando aquele costume e o levaram a não deixar passar loteria sem bilhete.
ASSIS, Machado de. Machado para a juventude. Rio de Janeiro: Lia Editor S.A., 1978. Fragmento.
Esse trecho permite-nos perceber algumas marcas típicas do estilo realista:
* descrição detalhada das ações e das razões que justificam as atitudes de personagens;
* crítica e ironia;
* descrença na religião;
* visão objetiva/ in natura sobre a realidade da vida.
E aí, surgiu alguma dúvida? Deixe uma questão abaixo que eu lhe responderei.
Um beijo e um queijo.
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