Digite aqui o que você precisa

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Hìfen - seu safado!

Senhores, há aí um trabalho do professor Roberto Sarmento Lima, disponível em aqui.

De qualquer forma, para os interessados, fiquem à vontade para consultar esse bem extenso trabalho do professor.

O uso do hífen segundo o Acordo Ortográfico

                                             Sistematização feita por Roberto Sarmento Lima



         De uso controvertido desde sempre, o emprego do hífen, mesmo com as novas regras definidas pelo recente Acordo Ortográfico, continua criando dificuldades para a compreensão do usuário da língua portuguesa. Assim, pensei, neste documento, disciplinar tal uso, procurando sistematizar essa questão de forma mais clara e didática.
            Para tal propósito, dividirei a discussão do seu emprego em duas etapas, sob os seguintes rótulos gerais: (1) Usa-se o hífen; e (2) Não se usa o hífen. Em cada seção, aparecem exemplos e, às vezes, algumas justificativas consideradas necessárias ao esclarecimento dos tópicos apresentados. Vejamos:




1.     USA-SE O HÍFEN:


1.1.           Continua a ser usado o hífen em casos de composição por justaposição. Note-se que, nesse caso específico, não entra em questão a derivação como processo formador de palavras, com seus prefixos e falsos prefixos — situação que, aliás, exige outra compreensão —, mas tão-somente os termos compostos.
Desse modo, persiste o hífen em palavras compostas formadas por:


1.1.1.     substantivo + substantivo: pombo-correio; médico-cirurgião; tenente-coronel; decreto-lei; arco-íris; turma-piloto; ano-luz
1.1.2.     substantivo + adjetivo: amor-perfeito; guarda-noturno; cajá-mirim; obra-prima; capitão-mor; conta-corrente; erva-doce
1.1.3.     adjetivo + adjetivo: azul-escuro; russo-americano; político-social
1.1.4.     adjetivo com forma reduzida + adjetivo: ítalo-brasileiro (italiano e brasileiro); hispano-americano (hispânico e americano); luso-brasileiro (lusitano e brasileiro); afro-asiático (africano e asiático); afro-lusitano (africano e lusitano)
Observação: Interessante notar que o composto “afrodescendente”, que aparentemente se encaixa na regra deste item, continua do mesmo jeito, sem hífen. É que, nesse caso, a redução de “africano” (“afro”) não indica duas etnias, como em “afro-asiático” ou em “afro-lusitano”, querendo apenas dizer que certo indivíduo descende de africano. O termo “afro” aí age adjetivamente. Da mesma forma e pela mesma razão elimina-se o hífen em “eurocomunista” ou em “francofilia” (ao contrário de “euro-africano” e de “franco-russo”, em que aparecem nitidamente duas nacionalidades ou duas etnias).
1.1.5.     numeral + substantivo: primeiro-ministro; primo-infecção; segunda-feira
1.1.6.     verbo + substantivo: conta-gotas; guarda-roupa; toca-discos; finca-pé
1.1.7.     substantivos unidos por preposição: pé-de-moleque; pão-de-ló; mão-de-obra
Observação: Aqui, no item 1.1.7, a persistência do hífen é necessária, pois serve para fazer a distinção entre, por exemplo, o doce conhecido como “pé-de-moleque”, resultado lexical de matiz metafórico e já gramaticalizado, e o pé de um menino chamado pelas pessoas de moleque, “pé de moleque”. Nessa segunda situação são permitidas a inclusão de termo, como se pode ver em “pé grande de moleque”, ou a transformação da preposição “de” em uma contração, como em “pé daquele moleque” ou “pé do moleque”, o que evidencia não se tratar de composto.
1.1.8.     verbos ou substantivos repetidos: quero-quero; ruge-ruge; ruge-ruge; tico-tico

Observações gerais:
1.      Nada mudou em relação ao que era, antes do Acordo, nos oito casos acima explicitados.
2.      Não aparece aí nenhum prefixo; trata-se só de termos — de base nominal, adjetival, numeral ou verbal — formados pelo processo de composição por justaposição. E a justaposição de palavras, sem incluir jamais prefixos ou falsos prefixos, é que determina, salvo algumas exceções, que as palavras do conjunto se separem por hífen.
3.      Em sua maior parte, as palavras unidas pelo hífen têm plena autonomia na língua, podendo encontrar-se separadamente em contextos verbais diversos e com sentidos variados: “Vou na quinta à escola, e não no sábado”; “Dê-me a terça parte do que arrecadar”; “O pombo voa”; “O pão está bom”; “A infecção durou muito tempo”; “O americano curte muito o Brasil”; “O guarda me parou na rua”; “Ele guarda tudo nos armários”; “Quero água”; “A obra que você escreveu é sofrível”; “O médico é bom nos seus diagnósticos” etc.
4.      Chama atenção, no Acordo, entretanto, que palavras como “manda-chuva” e “pára-quedas” (item 1.1.6) perderam extraordinariamente o hífen, passando a grafar-se “mandachuva” e “paraquedas”. Da mesma forma, as antigas formas “pára-lama”, “pára-choque” e “pára-vento” passaram a “paralama”, “parachoque” e “paravento”. (O conjunto musical, liderado por Herbert Vianna, terá de se ajustar à nova regra, passando a grafar “Paralamas do sucesso”. Ou, por ser uma marca, já era grafado assim e assim deverá se manter, à revelia das alterações gráficas?) Alegam os gramáticos que tais compostos perderam a noção de composição. Pode-se, no entanto, perguntar: e por que perderam? E, a ser assim, por que “guarda-chuva” ou “para-brisa” continuam a ter o hífen? Trata-se de uma inconsistência do Acordo Ortográfico.
5.      Fato que também chama atenção — por não ter sido resolvido pelo Acordo — é que convivem, lado a lado, as chamadas locuções substantivas, adjetivas,  adverbiais e prepositivas, às vezes com hífen, às vezes sem ele, havendo até desacordo entre os melhores dicionaristas do país. Por exemplo, o dicionário Aurélio grafa “dona-de-casa”, com hifens, enquanto o Houaiss registra “dona de casa”, sem hifens. Dentro desse capítulo escrevem-se sem hífen “cão de guarda”, “fim de semana”, “café com leite”, “estrada de ferro”, “pão de mel”, “pão com manteiga”, “sala de jantar”, “cor de vinho”, “à vontade”, “acerca de”, ao passo que se escrevem com hífen, sem que se saiba exatamente por quê, “água-de-colônia”, “arco-da-velha”, “cor-de-rosa”, “mais-que-perfeito”, “pé-de-meia”, “ao-deus-dará”, “à queima-roupa”. O jeito é, a continuar assim, recorrer à velha decoreba como forma de não se enganar ao escrever.
6.      Tratando ainda das locuções, a que mais tem sido alvo de engano é a locução adjetiva “à-toa”, que sempre tem hífen para poder diferenciar-se da homônima adverbial “à toa”, sem hífen. Em frases figés como “Não é à-toa que...”, a imprensa nacional e as grandes publicações brasileiras não têm usado o hífen, tratando essa locução adjetiva como adverbial. Note-se que, no lugar dessa locução, nesse tipo de construção, é sempre possível usar um adjetivo, e nunca um advérbio: “Não é casual que...”, ou “Não é fortuito que...”, ou, ainda, “Não é indiferente que...”. Sobre essa particularidade os dicionaristas e gramáticos têm-se calado. Particularmente cheguei a consultar até a Academia Brasileira de Letras, que não soube responder a contento a essa consulta.




1.2.           O hífen é usado em topônimos que


1.2.1.     contenham os adjetivos reduzidos grão e grã: Grão-Pará; Grã-Bretanha
1.2.2.     contenham, como forma inicial, um verbo: Passa-Quatro; Quebra-Dentes; Traga-Mouros
1.2.3.     ou, ainda, que contenham, no meio da composição, algum artigo: Trás-os-Montes; Entre-os-Rios
1.2.4.     ou simplesmente, fora das três regras ditas há pouco, constitua já uma tradição: Guiné-Bissau
Observação: Por isso, por não se enquadrarem nas regras enunciadas neste item, é que se grafam sem hífen “América do Sul”, “Estados Unidos”, “Costa Rica”, “Timor Leste” etc.

1.3.           O hífen é usado em compostos que nomeiam espécies de plantas (campo da botânica) e de animais (campo da zoologia), estejam ou não os seus componentes unidos por preposição:


1.3.1.     vegetais: erva-do-chá; couve-flor; ervilha-de-cheiro; abóbora-menina; favo-de-santo-inácio; bem-me-quer
Observação: No entanto, escreve-se “malmequer”, nome de uma flor — portanto, do campo da botânica. Isto ocorre, contrariando a regra, talvez porque essa palavra seja formada com o auxílio do advérbio mal, que, quando funciona como prefixo, restringe o emprego do hífen a palavras cujo segundo elemento é iniciado por vogal ou pela letra h, mas não às outras, as demais consoantes. Por contaminação, a grafia de “malmequer” faz perder os hifens (Ver o item 1.4.2, logo a seguir, deste documento).
1.3.2.     animais: bem-te-vi; andorinha-do-mar; formiga-branca; cobra-d’água; beija-flor; tigre-dentes-de-sabre





1.4.           O hífen é usado em quase todos os termos que contenham, como se fosse originalmente um prefixo, o advérbio bem — principalmente quando o segundo termo se inicia por vogal ou h, mas não só —, e, apenas com essas letras, quando funciona como prefixo o advérbio mal:


1.4.1.     casos do advérbio “bem” como prefixo: bem-humorado; bem-estar; bem-afortunado; bem-soante; bem-nascido; bem-ditoso
Observação: Mas, contrariando a regra geral, grafam-se “benfeitor”, “benfeitoria”, “benquerer”, “benfazejo”.
1.4.2.     casos do advérbio “mal” como prefixo: mal-afortunado; mal-humorado; mal-educado; mal-assombro
Observação 1: Com o advérbio bem usado como prefixo, o hífen ocorre mesmo que a segunda palavra não seja iniciada por vogal ou h (vejam-se os exemplos de “bem-nascido” ou “bem-soante”, com exceção feita, porém, a “benfeitoria”, “benfeitor”, “benfazejo” e “benquerer”); mas, no caso particular do advérbio mal, não ocorre a mesma flexibilidade, razão por que, diante de consoantes, se escrevem “malnascido”, “malmandado”, “malsoante”, “malsucedido”, “malparado”, “malvisto”, “malcuidado”, “malfalante”, “malcriado”, “malconservado”, “malcasado”, “malcheiroso”, “malcomportado”, “malmequer” etc.
Observação 2: Quando indica o nome de uma doença, a palavra mal sempre tem hífen: “mal-canadense”, “mal-de-lázaro”, “mal-de-luanda”. “mal-de-gota”.
Observação 3: Registre-se a forma “mal-limpo”, que apresenta hífen por causa da consoante l, que aparece no fim da palavra mal e no início da palavra “limpo”.




1.5.           Emprega-se sempre o hífen quando aparecem, na formação das palavras, os elementos aquém, além, recém e sem:


1.5.1. com o elemento aquém: aquém-mar; aquém-Pirineus
1.5.2. com o elemento além: além-mar; além-fronteiras; além-Atlântico
1.5.3. com a preposição sem no papel de prefixo: sem-vergonha; sem-teto; sem-cerimônia





1.6.           Emprega-se sempre o hífen — agora em casos específicos de derivação prefixal — quando o segundo termo se inicia ou por vogal idêntica à vogal que termina o prefixo ou o falso prefixo ou, ainda, quando o segundo termo se inicia pela letra h:


1.6.1.     caso de vogais idênticas: micro-ondas; anti-intelectual; contra-almirante; semi-interno; auto-observação; infra-axilar; supra-auricular; anti--ibérico; arqui-inimigo; eletro-ótica 
Observação 1: Tal regra não serve nem para o prefixo co- nem para o prefixo re-, aparecendo, assim, da seguinte maneira, as palavras “coordenar”, “coocupante”, “coobrigação”, “reeducar”, “reeleição”, “reempossado”, “reescrita”.
Observação 2: Não havendo coincidência de vogais, em outros casos também (vogal mais consoante ou consoante mais consoante), o hífen desaparece de uma vez por todas dos derivados, como se vê em “contracheque”, “multiuso”, “autoimunidade”, “antiplaca”, “agroindústria”, “contrapé”, “semiárido”, “radiopatrulha”, “microindústria”, “autopeças”, “hidroginástica”, “antivírus”, “hidroavião”, “anticaspa”, “antiácido”, “antiferrugem”, “anteprojeto”, “autoeducativo”, “contragolpe”, “seminovo”, “radiotáxi”, “megaoperação”, “cardiovascular”, “infravermelho”, “macroeconomia”, “radiovitrola”, “seminu”, “antimatéria”, “antigreve”, “microempresário”, “autoestrada”, “autodefesa”, “audiovisual”, “hiperdesconto”, “supermercado”, “intercomunicacional”, “socioeconômico”, “sobreloja” etc. (consultar os itens 2.2.1 e 2.2.2)
Observação 3: A palavra “ensino-aprendizagem”, que apresenta vogais diferentes no fim de uma palavra e no começo da outra (ensino e aprendizagem), não se deixa reger, apesar da aparência formal, por essa regra, porque, aí, em primeiríssimo lugar, não temos prefixo — primeira condição (ver a Observação 1 do item 1.1. deste documento) —, nem essa palavra é um composto da mesma maneira que “hispano-americano” ou “pombo-correio”. É um fenômeno à parte, isolado de todos aqueles que foram comentados até este momento. Note-se que as duas palavras envolvidas — “ensino” e “aprendizagem” — têm completa autonomia mesmo no conjunto a que pertencem, o que não é, evidentemente, o caso de “pombo-correio”, em que “correio” define o tipo de “pombo”, qualificando-o como se fosse um adjetivo. Aqui, em “ensino-aprendizagem”, trata-se tão-somente de uma relação entre termos, como acontece com “estrada Rio-São Paulo”, sequência nominal em que a cidade de São Paulo não determina a cidade do Rio de Janeiro e vice-versa. Indicia, pois, uma relação de trajeto, nas duas direções: do Rio para São Paulo, e de São Paulo para o Rio. O mesmo ocorre com “ensino-aprendizagem”, em que o ensino leva ou não à aprendizagem ou a aprendizagem direciona o tipo de ensino, mas não necessariamente. Antes da reforma ortográfica de 2008, essas cadeias vocabulares eram unidas por travessão, e não por hífen: “estrada Rio—São Paulo” e “processo ensino—aprendizagem”. Com o Acordo, deu-se, acertadamente, a simplificação, com a adoção do hífen.

1.6.2.     caso do aparecimento do h iniciando o segundo elemento da derivação: anti-higiênico; co-herdeiro; contra-harmônico; extra-humano; super-homem; pré-história; sócio-histórico; ultra-hiperbólico; geo-história; semi-hospitalar; sub-hepático; neo-helênico
Observação: Acontece, porém, que há palavras cuja raiz começa por h e, mesmo assim, aglutinaram-se ao prefixo, eliminado o h etimológico, fazendo perder o hífen, a ponto de contrariar a regra dominante. É o caso de “desumano”, “subumano”, “inábil”, “inumano”, de larga tradição na língua.
1.7.           Emprega-se o hífen com palavras formadas com os prefixos circum- e  pan-, quando a eles se seguem elementos iniciados por vogal, m e n


1.7.1.     com o prefixo circum-: circum-escolar; circum-navegação; circum-murado
1.7.2.     com o prefixo pan-: pan-americano; pan-mágico; pan-negritude



1.8.           Emprega-se o hífen com os prefixos pós-, pré- e pró- com algumas exceções a essa regra:


1.8.1.     com o prefixo pós-: pós-graduação; pós-tônico
1.8.2.     com o prefixo pré-: pré-escolar; pré-datado; pré-natal
1.8.3.     com o prefixo pró-: pró-reitor; pró-europeu; pró-africano
Observação: Diz a regra que tais prefixos se separam por hífen da palavra seguinte porque esta tem vida própria e inconfundível. No entanto, ainda se escrevem “prever” (“ver” tem vida à parte), “pospor” (idem) e “promover” (idem). A explicação deveria ser outra: tais verbos têm larga tradição na língua e sempre se escreveram sem hífen. No caso de “pré-escolar” ou “pró-reitor”, por exemplo, tais termos indiciam alternância de situação e distinção semântica no caso de simultaneidade: existem ao mesmo tempo o “reitor” e o “pró-reitor” e os cargos não se confundem. Da mesma maneira o “escolar” e o “pré-escolar”. Há o cheque “datado” e o “pré-datado”, que podem ser emitidos simultaneamente. Mas não se pode, salvo melhor juízo, “ver” e “prever” ao mesmo tempo, ou “pôr” ou “pospor” ao mesmo tempo e na mesma situação discursiva.



1.9.           Emprega-se o hífen com os prefixos hiper-, inter- e super-, se a eles se seguirem palavras iniciadas pela consoante r:


1.9.1.     com o prefixo hiper-: hiper-requintado
1.9.2.     com o prefixo inter-: inter-racial
1.9.3.     com o prefixo super-: super-revista



1.10.       Emprega-se sempre hífen com o sufixo ex-, desde que o sentido seja o de estado anterior:

1.10.1. é o caso de ex-marido; ex-diretor; ex-presidente; ex-primeiro-ministro
1.10.2. mas não se deve confundir com exterior, explicar ou excomungar (no primeiro e segundo exemplos há a ideia de movimento para fora e o prefixo está devidamente incorporado à raiz dessas palavras, enquanto no terceiro não aparece a ideia de uma situação anterior, mas sim aquela que passa a ser, projetivamente)




1.11.       Os sufixos de origem tupi-guarani como –açu, -guaçu e –mirim separam-se por hífen da palavra que os precede desde que esta termine por vogal acentuada graficamente ou, mesmo sem o acento diacrítico, a palavra tenha uma pronúncia que exija a distinção em relação a tais sufixos:


1.11.1. com o sufixo –açu: andá-açu; capim-açu; jacaré-açu
Observação: Note-se que se deve pronunciar, em “capim-açu”, a palavra “capim” sem fazer a passagem do som nasal para o sufixo (o que daria “capimaçu”, de som estranho, chegando até a dificultar a decodificação imediata do composto e seu significado). Daí, pois, o hífen, a mostrar que não se deve pronunciar fazendo a ligação fonética entre os elementos do composto.
1.11.2.com o sufixo –guaçu: amoré-guaçu
1.11.3. com o sufixo –mirim: anajá-mirim; Ceará-Mirim; Paraná-mirim
Observação: Não se usa hífen em “leitor mirim”, por exemplo, porque nem “leitor” termina por vogal acentuada graficamente (caso de “anajá-mirim”) nem há o risco de ocorrer ligação fonética entre “leitor” e “mirim” (como em “capim-açu”), que são as duas restrições da presente regra.












2. NÃO SE USA O HÍFEN



2.1. Nos casos em que o prefixo termina por vogal e a palavra que se segue começa pelas consoantes r ou s, tais consoantes se dobram:


2.1.1. vogal + consoante r: autorretrato; antirreligioso; Contrarreforma; contrarregra; biorritmo; microrradiografia; radiorrelógio; autorradiografia; arquirrival; antirracional; contrarrazão; antirracial; alvirrubro; antirrevolucionário; anterrosto; suprarrenal

2.1.2. vogal + consoante s: antissocial; autosserviço; minissaia; autossuficiente; antissemita; antisséptico; extrassensorial; pseudossufixo; pseudossigla; multisserviço; contrassenso; autossugestionável; entressafra; ultrassonografia



2.2. Não se usa o hífen também quando o prefixo ou o falso prefixo do composto terminam por uma vogal e o outro elemento começa por vogal diferente ou quando o segundo elemento se inicia com consoante após uma vogal e, ainda, quando tanto o fim do prefixo quanto o início do radical da palavra são consoantes:


2.2.1. vogal + outra vogal: antiaéreo; infraestrutura; extraescolar; radioamador; hidroelétrica; autoinstrução; intrauterino; neoimpressionista; intraocular; megaestrela;

2.2.2. vogal + consoante: inframencionado; hidromassagem; multivitaminado; cardiopulmonar; antiterrorista

2.2.3. consoante + consoante: intermunicipal; hiperdesconto; supermercado
Observação 1: Ao que consta, este item (consoante + consoante) está restrito aos prefixos inter-, hiper- e super-.
Observação 2: Este caso se encontra na Observação 2 do item 1.6.1 deste documento, com ampla exemplificação.
Observação 3: No nome do movimento religioso católico Contrarreforma, como em outras ocorrências em que aparece o “prefixo” preposicional “contra-”, há que se refletir bastante se, nesses casos, se trata mesmo de termo derivado e não de um composto por justaposição. Primeiro, porque a palavra preposição “contra” se acha na língua muitas vezes usada de forma independente, substantivando-se e assumindo a flexão de número do substantivo (como em “Os contras da Nicarágua”); segundo, porque assume valor de raiz, tem matiz semântico, não tendo, pois, o esvaziamento de sentido peculiar a outras preposições, como a preposição “a” ou a “de”. Por falta, pois, de melhor reflexão sobre esse tópico, é de pensar se o melhor — por se poder considerar tal formação um caso de composição — não seria grafar “Contra-Reforma”, tal como era antes do Acordo Ortográfico, assim como, também, “contra-regra”, e não “contrarregra”, como prevê o Acordo, que julga tais palavras, as mencionadas aqui, formas derivadas.
Última observação: O Acordo exige que, na translineação, se deve repetir o hífen no começo da outra linha, por amor à clareza, indicando, assim, que o hífen colocado no fim da linha realmente existe, faz parte de um composto ou de um termo derivado, e não surgiu ocasionalmente por causa de eventual separação silábica em fim de linha.






CONCLUSÕES:


1.      Desde a oficialização do Acordo Ortográfico, vê-se que o hífen é, ainda hoje, mesmo com a reforma, maciçamente empregado e atende a maioria dos casos, havendo apenas sua eliminação em duas situações muito específicas: (1) quando, no caso amplo dos derivados, o prefixo termina por vogal e o segundo elemento se inicia pelas consoantes r e s (caso de “autorretrato” ou “autosserviço”); e (2) quando, entre o prefixo e o segundo elemento, não há coincidência de vogais (“autoestrada”), ou a vogal depara com uma consoante (“anticomunista”), ou simplesmente não há vogais, mas apenas consoantes (“hipermercado”). A ocorrência “longa-metragem” tem hífen porque se trata, sim, de um composto, e não de um derivado. Em princípio, todos os compostos por justaposição têm hífen; já os derivados ora têm, ora não têm.

2.      A dúvida que possa existir quanto à eliminação ou não do hífen se prende, portanto, apenas a casos de derivação prefixal, e não envolve casos de composição por justaposição, em que, em geral, sempre se apresenta hífen (assim, temos, por um lado, os compostos “hispano-americano” e “guarda-roupa” — as exceções seriam “mandachuva”, “paraquedas”, “paralama”, “parachoque” e “paravento” —, claros exemplos de composição por justaposição, enquanto, por outro lado, temos “hipoícone”, sem hífen, e “anti-intelectualismo”, com hífen, termos que exemplificam casos de derivação prefixal).



Fontes bibliográficas usadas para esta sistematização:



ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA: Resolução nº 17, de 7 de maio de 2008. Recife: Construir, 2008.

AZEREDO, José Carlos de (Coord.). Escrevendo pela nova ortografia: como usar as regras do novo Acordo Ortográfico da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha/Instituto Antônio Houaiss, 2008.

BORBA, Francisco S. Dicionário de usos do português do Brasil. São Paulo: Ática, 2002.

BOSCOV, Isabela. A última do português. Veja. São Paulo: Abril, ano 41, nº 2.093, 31 dez. 2008, p. 192-197.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. totalmente rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

LEDUR, Paulo Flávio. Guia prático da nova ortografia. 3. ed. rev. Porto Alegre: AGE, 2009.

LIMA, Roberto Sarmento. Estava à toa na vida. Língua portuguesa. São Paulo: Segmento, ano 2, nº 24, out. 2007, p. 48-50.

MACHADO, Josué. Hora de remarcar os dicionários. Língua portuguesa. São Paulo: Segmento, ano 3, nº 35, set. 2008, p. 28-32.

MANUAL DA NOVA ORTOGRAFIA. São Paulo: Ática/Scipione, ago. 2008.

MARTINS, Eduardo. Uso do hífen. Barueri, SP: Manole, 2006.

MONTEIRO, José Lemos de. Morfologia portuguesa. 4. ed. rev. e ampl. Campinas: Pontes, 2002.

NAPOLI, Tatiana. Quem precisa do Acordo Ortográfico?. Conhecimento prático língua portuguesa. São Paulo: Escala Educacional, ano 2, nº 15, [jan./fev. 2009], p. 52-60.

NOVO Acordo entra em vigor. Língua portuguesa. São Paulo: Segmento, ano 3, nº 39, jan. 2009, p. 16-17.

TEIXEIRA, Jerônimo. A riqueza da língua. Veja. São Paulo: Abril, ano 40, nº 2.025, 12 set. 2007, p. 88-96.




                                   Maceió, 11 de março de 2008.



                                   Roberto Sarmento Lima

sábado, 27 de abril de 2013

Eu odeio livros

Uma dica para você que tem filhos, irmãos, sobrinhos, priminhos menores: o ser humano só consegue aprender por meio do exemplo, ou seja, dê o exemplo para as crianças! Se você quer que os pequenos leiam você deve mostrar para eles que isso é importante!

 Nunca se esqueça de quão gratificante é demonstrar que a vida ainda vale a pena para aqueles que acabaram de ingressar nela. Ao abrir um livro você abre novas possibilidades de vida, novas portas de ação, de comunicação e de inserção na sociedade.

Para finalizar, leia um trecho da filósofa Hannah Arendt e, em seguida, um pequeno vídeo retirado do YouTube que pode servir para muita gente que ainda não entendeu que as coisas podem e devem acontecer por meio da leitura.

"A Educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gosto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e jovens. A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum." (Hanna Arendt)

Clique aqui: A menina que odiava livros

Um beijo e um queijo a todos!

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Memórias de um sargento de milícias

AVALIAÇÃO CONTÍNUA - 2º ANO


(FUVEST) Indique a alternativa que se refere corretamente ao protagonista de Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida:

a) Nele, como também em personagens menores, há o contínuo e divertido esforço de driblar o acaso das condições adversas e a avidez de gozar os intervalos da boa sorte.
b) Este herói de folhetim se dá a conhecer sobretudo nos diálogos, nos quais revela ao mesmo tempo a malícia aprendida nas ruas e o idealismo romântico que busca ocultar.
c) A personalidade assumida de sátiro é a máscara de seu fundo lírico, genuinamente puro, a ilustrar a tese da "bondade natural", adotada pelo autor.
d) Enquanto cínico, calcula friamente o carreirismo matrimonial; mas o sujeito moral sempre emerge, condenado o prõprio cinismo ao inferno da culpa, do remorso e da expiação.
e) Ele é uma espécie de barro vital, ainda amorfo, a que o prazer e o medo vão mostrando os caminhos a seguir, até sua transformação final em símbolo sublimado.

(FUVEST) Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, o que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria de hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão³. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremando beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença d serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)

Glossário:

1algibebe: mascate, vendedor ambulante.
2 saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.

2. Neste excerto, o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Leonardo e Maria

a) manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.
b) revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares, mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero.
c) reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do Naturalismo.
d) opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante do Romantismo.
e) evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial escravista.

3. No excerto, o narrador incorpora elementos da linguagem usada pela maioria das personagens da obra, como se verifica em: 

a) aborrecera-se porém do negócio.
b) do que o vemos empossado.
c) rechonchuda e bonitona.
d) envergonhada do gracejo.
e) amantes tão extremosos.

4. No excerto, as personagens manifestam uma característica única que é a:

a) disposição permanentemente alegre e bem-humorada.
b) discrepância entre a condição social humilde e a complexidade psicológica.
c) busca da satisfação imediata dos desejos.
d) mistura das raças formadoras da identidade nacional brasileira.
e) oposição entre o físico harmonioso e o comportamento agressivo.

5. Assinale a alternativa em que aparece fragmento que se refere ao protagonista de Memórias de um Sargento de Milícias.

a) "Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado."
b) "Era o rei absoluto, o árbitro supremo de tudo que dizia respeito a esse ramo de administração: era o juiz que julgava e distribuía a pena."
c) "Quando passou de menino a rapaz, e chegou a saber barbear e sangrar sofrivelmente, foi obrigado a manter-se à sua custa."
d) "Era este um homem todo em proporções infinitesimais, baixinho, magrinho, de carinha estreita e chupada, excessivamente calvo, tinha pretensões de latinista."
e) "Digamos unicamente que durante todo este tempo o menino não desmentiu aquilo que anunciara desde que nasceu: atormentava a vizinhança."

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O PEQUENO PRÍNCIPE

Aluninhos do 1º ano.

Um de nossas leituras no 1º bimestre de 2013 é a do livro "O pequeno príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry. Abaixo segue o link em pdf:

http://www.biblioteca.radiobomespirito.com/o_pequeno_principe.pdf

O outro livro que leremos, este em sala de aula, é "Auto da barca do inferno", de Gil Vicente.

 http://stat.correioweb.com.br/arquivos/educacao/arquivos/GilVicente-AutodaBarcadoInferno0.pdf

Boa leitura!

Livros Obrigatórios FUVEST e UNICAMP 2013

Queridos alunos, como vocês já devem saber a lista de livros obrigatórios para os vestibulares FUVEST e UNICAMP deste ano permanece a mesma.

A saber:

"Viagens na minha terra" - Almeida Garrett
http://www.cursinhodoxi.com.br/viagens_na_minha_terra.pdf

"Til" - José de Alencar
http://www3.universia.com.br/conteudo/livros/til.pdf

"Memórias de um sargento de milícias" - Manuel Antônio de Almeida
http://www.fosjc.unesp.br/extensao/prevest/paraibuna/HUMANAS_files/Memo%CC%81rias%20de%20um%20sargento%20de%20mili%CC%81cias,%20de%20Manuel%20Antonio%20de%20Almeida.pdf

"Memórias de um sargento de milícias" em HQ
http://www.ebah.com.br/content/ABAAABihgAI/hq-memorias-sargento-milicias-manuel-antonio-almeida 

"Memórias póstumas de Brás Cubas" - Machado de Assis
http://www.fuvest.br/download/livros/brascubas.pdf

"Memórias póstumas de Brás Cubas" em HQ
http://www.slideshare.net/jeronimojaf/hq-memorias-postumas-de-brs-cubas-machado-de-assis-14660812

"A cidade e as serras" - Eça de Queirós
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000081.pdf

"O cortiço" - Aluísio Azevedo
http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/cortico.pdf

"O cortiço" em HQ
http://www.ebah.com.br/content/ABAAABglsAC/hq-cortico-aluisio-azevedo

"Vidas Secas" - Graciliano Ramos
http://www.fosjc.unesp.br/extensao/prevest/paraibuna/HUMANAS_files/vidas_secas.pdf

"Capitães da Areia" - Jorge Amado (trecho)
http://www.companhiadasletras.com.br/trechos/80129.pdf

"Sentimento do mundo" - Carlos Drummond de Andrade (trecho)
http://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13273.pdf


Toda a contribuição com links de filmes e análises que possam servir aos colegas serão bem-vindas, coloquem-nas nos comentários e boa leitura!

2013 é o ano de vocês!!!

Professor Valmir Luis