PROF. VALMIR LUIS
LITERATURA
EXERCÍCIOS MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, Machado de Asis
1)
a. Há um caráter recorrente na obra de Machado de Assis que está implícito no trecho "... ele cultivou livremente o elíptico". Interprete essa informação.
b. Outra marca registrada de Machado de Assis está citada na frase "... intervindo na narrativa com bisbilhotice saborosa." Explique.
2) No trecho que segue, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época, o Romantismo.
Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura de nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson, 1957.
Identifique o trecho em que essa crítica é mais aparente.
3) Assinale a opção que contenha trecho com a conhecida digressão metalinguística presente na obra de Machado de Assis.
a. Ora bem, faz hoje um ano que voltei definitivamente da Europa. O que me lembrou esta data foi, estando a beber café, o pregão de um vendedor de vassouras e espanadores: “Vai vassouras! vai espanadores!”.
b. Cuido haver dito, no capítulo XIV, que Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia.
Viver não é a mesma cousa que morrer [...].
c. Rubião não sabia que dissesse: Sofia, passados os primeiros instantes, readquiriu a posse de si mesma: respondeu que, em verdade, a noite era linda [...].
d. Assim chorem por mim todos os olhos de amigos e amigas que deixo neste mundo, mas não é provável. Tenho-me feito esquecer.
e. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros [...].
4) UFPE – Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.
Machado de Assis escreveu uma vasta e variada obra, sobre a qual podemos afirmar (V ou F):
( ) É permeada pelo pessimismo do autor – evidente na declaração que abre a questão – aliado a uma fina ironia e a um aguçado senso crítico.
( ) Inclui contos, poemas e romances e supera estilos e modas, sendo uma literatura com características próprias e únicas.
( ) Como ficcionista, inicia-se no Romantismo e evolui para o Realismo, porém ultrapassa as limitações de escolas literárias
( ) Tem em Memórias póstumas de Brás Cubas seu livro-marco, a partir do qual se inicia a fase mais profunda e madura do autor.
( ) Seus personagens não são seres extraordinários, nem procedem de maneira heroica. O autor não se interessa pela descrição do exterior, mas penetra nas consciências dos personagens, revelando a verdade de cada um deles.
5) PUC-SP
Este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...
Este trecho integra o capítulo “O senão do livro”, do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Dele e do livro como um todo, é possível depreender que:
a. se marca pela função metalinguística, já que o narrador autor reflete sobre o próprio ato de escrever e analisa criticamente seu estilo irregular e vagaroso.
b. afirma que o livro “cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica”, porque foi escrito do além, é uma obra de finado e trata apenas de fatos da eternidade.
c. é um capítulo desnecessário e o próprio narrador pensa em suprimi-lo por causa do despropósito que contém em suas últimas linhas e porque viola a estrutura linear dessa narrativa.
d. foge do estilo geral do autor, uma vez que interrompe o fio da narrativa com inserções reflexivas.
e. julga o leitor, com quem excepcionalmente dialoga, o grande defeito do livro, já que o desconsidera ao longo do romance.
Leia o texto que segue para responder às questões de 6 e 7.
Um poeta dizia que o menino é o pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino.
Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher de doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício deitei um punhado de cinza no tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, – algumas vezes gemendo – mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, “ai nhonhô!” ao que eu retorquia: “Cala a boca, besta!” – Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos.
Não se conclua daqui que eu levasse o resto da minha vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui; se não passei o tempo a esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
6. Unifesp
Indique a frase que, no contexto do fragmento, ratifica o sentido de "o menino é o pai do homem", citação inicial do narrador.
a. "... fui dos mais malignos do meu tempo..."
b. "... um dia quebrei a cabeça de uma escrava..."
c. "... deitei um punhado de cinza no tacho..."
d. "... fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado..."
e. "... alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras..."
7. Unifesp
É correto afirmar que:
a. se trata basicamente de um texto naturalista, fundado no determinismo.
b. o texto revela um juízo crítico do contexto escravista da época.
c. o narrador se apresenta bastante sisudo e amargo, bem ao gosto machadiano.
d. o texto apresenta papéis sociais ambíguos das personagens em foco.
e. os comportamentos desumanos do narrador são sutilmente desnudados.
Leia o texto que segue para responder às questões de 8 e 9.
Óbito do autor
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor-defunto, mas um defunto-autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e novo.
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
8.
Considerando o contexto da obra a que pertence o fragmento lido, marque o único entendimento correto.
a. A expressão "autor-defunto", usada pelo narrador, transparece seu estado de saúde terminal.
b. Quando emprega o termo "vulgar", o autor revela preocupação em não ser banal, em não apresentar vulgaridades apelativas em seu texto.
c. Quando pensa em “memorizar sua morte”, o narrador alude a um exercício futurista, ou seja, descrever o futuro, afinal, se está escrevendo, ele ainda está vivo.
d. O "diferente método" a que se refere o narrador é a ideia de contar sua história como aconteceu, sem recursos de rebuscamentos literários.
e. No último período, o narrador revela a intenção de fazer com que seu relato seja, além de original, charmoso.
9.
A metáfora presente em “a campa foi outro berço” baseia-se:
a. na relação abstrato/concreto que há em campa/berço.
b. no sentido conotativo que assume a palavra campa.
c. na relação de similaridade estabelecida entre campa e berço.
d. no sentido denotativo que tem a palavra berço.
e. na relação todo/parte que existe em campa/berço.
10. ITA-SP
Alguns estudiosos consideram que a publicação, em 1881, do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, marca o início do Realismo na literatura brasileira. Contudo, não é difícil perceber que esse livro já apresenta algumas características que serão desenvolvidas pela ficção moderna do século XX, principalmente:
a. a ironia com que o narrador personagem descreve a hipocrisia dos costumes da burguesia brasileira, que constitui aquilo que se pode chamar de “moral de fachada”.
b. o caráter reflexivo da narrativa, que sempre procura entender o comportamento humano, mesmo naquilo que aparentemente ele tem de mais banal.
c. o recurso a um tipo de ficção que questiona os limites entre o real e o irreal, já que o narrador do livro de Machado é um homem morto.
d. o humor, que pode ser tanto mais explícito, gerando narrativas próximas da comédia, quanto mais sutil, marcando um distanciamento crítico do autor diante das personagens.
e. o uso da metalinguagem, ou seja, o fato de o texto chamar a atenção para a sua própria construção, fazendo comentários acerca de si mesmo.
11. Fuvest-SP
Filosofia dos epitáfios
E, aliás, gosto dos epitáfios; eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra que passou. Daí vem, talvez, a tristeza inconsolável dos que sabem os seus mortos na vala comum; parece-lhes que a podridão anônima os alcança a eles mesmos.
O fragmento de Memórias póstumas de Brás Cubas exemplifica a seguinte característica de seu autor:
a. O pessimismo com que trata as personagens que ocupam postos privilegiados na sociedade burguesa, diferentemente do modo como lida com indivíduos socialmente carentes.
b. O uso da ironia como arma de combate às tendências estéticas do Romantismo, de qual nunca sofreu influência.
c. A fixação nos problemas sentimentais, entendidos como única causa da conduta humana.
d. A tendência à idealização das personagens, herança do Romantismo.
e. A tentativa de compreender a natureza humana naquilo que tem de universal.
Tais exercícios deverão ser entregues pelos alunos do 2º ANO_COC ARARAQUARA, dia 14/05 e poderão ser feitos em DUPLAS ou TRIOS.