Precisamos falar sobre o caso do MAM, mas também precisamos falar sobre educação.
O economista e filósofo Joel Pinheiro da Fonseca abordou, em texto publicado pela Folha (10/10/2017), as "duas morais" que parecem estar em conflito no caso da performance realizada no MAM, de São Paulo, e que contava com um artista nu que fazia uma releitura da obra "O bicho", de Lygia Clark. Para o articulista, há dois universos em jogo: o da classe artística e o da classe média brasileiras. Os artistas não "suportariam" críticas, pois sempre as consideram como "ofensa"; enquanto a classe média não se importaria com a "arte", mas com a defesa do "bem-estar" da criança ante uma questão de sexualização precoce.
Diante desse quadro, há dois pontos que me parecem urgentes: os "intelectuais" e a "questão da educação".
Os intelectuais parecem, por vezes, esquecer que há um mundo para fora da "bolha" em que vivem. As pesquisas que pouco ou nada dizem sobre a sociedade em geral ou que não conseguem/ não querem sair dos limites do mundo universitário e pós-graduado para assumir o essencial fator de extensão à comunidade são a tônica dessas intervenções. Dessa forma, os novos olhares sobre as questões humanas -- sociais, filosóficas ou artísticas (para ficar no ramo que mais conheço) -- não chegam ao grande público e, portanto, não fazem parte de uma discussão, de uma percepção e de um letramento amplos e democráticos. Na verdade, o que normalmente vemos é um grupo escrevendo, publicando e interagindo com as pessoas desse mesmo grupo que, por isso mesmo, quase sempre aplaudem de forma irrestrita o que é apresentado (haja vista, por exemplo, as defesas de dissertações e teses nas universidades brasileiras, que raramente conseguem ultrapassar os muros do metaconhecimento).
Disso vem a segunda questão: a educação. Se queremos que nossos valores de arte e cidadania sejam compreendidos pelo grande público, precisamos fazer com que a educação seja um valor. Não apenas a educação formal, mas a informal também. Como podemos fazer com que se entenda a arte contemporânea e conceitual se não ousarmos sair de nossos grupinhos e assumirmos que pode (não que deve, necessariamente) haver uma pedagogia e uma didática da arte?
Ainda que seja fundamental o "choque" e o "desconforto" para muitas estéticas contemporâneas, não estamos sendo razoáveis quando esperamos que o público médio "saiba" do que está falando quando não há uma educação para o choque e o desconforto. Mal comparando, é como se quiséssemos que uma criança pulasse a fase do engatinhar e fosse direto para o caminhar. Queimando etapas, teremos mais problemas do que soluções.
Apenas como ilustração, sou professor de Linguagens e Códigos em três colégios. Estamos, nessas últimas semanas, falando sobre arte moderna, de vanguarda e contemporânea. trabalho em colégios cujo público-alvo é de classe média e tem poder aquisitivo relativamente alto. Mesmo assim, mesmo com cautela, mesmo sem questionar valores culturais e morais os mais conservadores possíveis, há uma dificuldade extrema em fazê-los compreender o espelhamento da arte, a dificuldade em definir seus limites, o debate estético etc. etc. etc. Quando saio da sala de aula e percebo que eles estão questionando o olhar que eles têm sobre as coisas, sinto-me com o dever cumprido. Mas quantos são os que podem, gradualmente, serem levados a repensar o olhar no "mundo real"?
Daí meu ponto: não podemos ignorar que o grande público tenha ressalvas ao que ele entende como "ataque moral", por isso devemos ter uma postura mais atuante na sociedade, escapando um pouco dos olhares que sempre nos cumprimentam pelo que fazemos, e sendo mais didáticos e ativos socialmente; ao mesmo tempo, não podemos tolerar que essa questão estética seja transformada em uma briga política cega de ódio.
É necessário levar ao questionamento de si, a fim de que sejamos pessoas que compreendem melhor os outros e o entorno de nós mesmos, mas, de preferência, devemos entender que se não levarmos em consideração nossa audiência, podemos naufragar em bons propósitos que se tornaram inúteis do ponto de vista prático.
Linguajando
"Ver não é o mesmo que olhar, assim como ouvir não é o mesmo que escutar. Ver envolve apenas o esforço de abrir os olhos; olhar significa abrir a mente e usar o intelecto. Olhar uma pintura [ou um poema] é como partir para uma viagem." Robert Cumming
Digite aqui o que você precisa
quarta-feira, 11 de outubro de 2017
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
2ª MOSTRA DE ARTES DO COC ARARAQUARA
2º MAC – MOSTRA DE ARTES DO COC
03 out. 19h - 21h –
TEATRO WALLACE LEAL
ENTRE A LIBERDADE E A REPRESSÃO
Em 2014, completamos cem anos da Grande Guerra e cinquenta do Golpe Militar no Brasil. Pensando nisso, o COC – ARARAQUARA preparou a 2ª MAC, cujos temas principais são o trabalho, a arte e o pensamento entre a liberdade e a repressão.
ATRAÇÕES:
· Espaço poesia: declamação de textos autorais e de poemas da literatura marginal brasileira;
· Exibição de vídeos sobre a questão da liberdade e da repressão;
· Mostra de artes visuais: desenhos e pinturas feitos pelos alunos;
· Esquetes teatrais abordando Política, Filosofia e Artes;
· Intervenções musicais abordando a História brasileira;
· Literatura e música: relações entre o Modernismo e a Tropicália;
· Espetáculo de dança;
· Músicas do pós-ditadura: Vandré, Raul, Legião.
Participação dos alunos do 1º e 2º anos do Ensino Médio e dos professores da instituição.
Onde: Teatro Wallace Leal. Avenida Espanha, 485, entre as ruas 3 e 4. No mesmo quarteirão da casa da cultura.
03 out. 19h - 21h –
TEATRO WALLACE LEAL
ENTRE A LIBERDADE E A REPRESSÃO
Em 2014, completamos cem anos da Grande Guerra e cinquenta do Golpe Militar no Brasil. Pensando nisso, o COC – ARARAQUARA preparou a 2ª MAC, cujos temas principais são o trabalho, a arte e o pensamento entre a liberdade e a repressão.
ATRAÇÕES:
· Espaço poesia: declamação de textos autorais e de poemas da literatura marginal brasileira;
· Exibição de vídeos sobre a questão da liberdade e da repressão;
· Mostra de artes visuais: desenhos e pinturas feitos pelos alunos;
· Esquetes teatrais abordando Política, Filosofia e Artes;
· Intervenções musicais abordando a História brasileira;
· Literatura e música: relações entre o Modernismo e a Tropicália;
· Espetáculo de dança;
· Músicas do pós-ditadura: Vandré, Raul, Legião.
Participação dos alunos do 1º e 2º anos do Ensino Médio e dos professores da instituição.
Onde: Teatro Wallace Leal. Avenida Espanha, 485, entre as ruas 3 e 4. No mesmo quarteirão da casa da cultura.
sábado, 13 de setembro de 2014
domingo, 24 de agosto de 2014
CAMÕES
Querid@s Alun@s!
A fim de aumentar nossas leituras, envio-lhes um site com alguns dos poemas de nosso grande Camões:
http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/camoes.html
Usem-no à vontade! Leiam-no a valer!
Ainda, algumas análises da Professora Graça Coelho, da Escola Secundária Lousada, de Portugal:
https://ciberjornal.files.wordpress.com/2009/01/a-lc3adrica-de-camc3b5es-e-anc3a1lise-de-poemas-10c2baano.pdf
P.S.
Ah, Camões, "quanto de meu estado me acho incerto" quando estou posto a lê-lo e relê-lo. Sei que "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", mas não me canso de dizer que ainda que a "alma minha, gentil" tenha partido, sempre sobram os poemas e a eternização do momento.
A fim de aumentar nossas leituras, envio-lhes um site com alguns dos poemas de nosso grande Camões:
http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/camoes.html
Usem-no à vontade! Leiam-no a valer!
Ainda, algumas análises da Professora Graça Coelho, da Escola Secundária Lousada, de Portugal:
https://ciberjornal.files.wordpress.com/2009/01/a-lc3adrica-de-camc3b5es-e-anc3a1lise-de-poemas-10c2baano.pdf
P.S.
Ah, Camões, "quanto de meu estado me acho incerto" quando estou posto a lê-lo e relê-lo. Sei que "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", mas não me canso de dizer que ainda que a "alma minha, gentil" tenha partido, sempre sobram os poemas e a eternização do momento.
domingo, 25 de maio de 2014
Lista de exercícios - Memórias Póstumas de Brás Cubas (com gabarito)
Olá, queridos alun@s! Como prometido, aí vai uma lista com vários exercícios que podem ser úteis na complementação da leitura do livro Memórias póstumas de Brás Cubas, de nosso ilustre Machado de Assis, o mais popular "Machadão", aproveito também para indicar-lhes o link do YouTube para o filme homônimo: https://www.youtube.com/watch?v=ap-SzXEiPGc.
Façam bom proveito!
1. “A narrativa machadiana em Dom Casmurro e Memórias póstumas de Brás Cubas obedece
à tradição da narrativa linear, de acordo com a passagem do tempo no relógio,
pela qual o leitor observa a evolução da vida dos personagens, desde o
nascimento ou a idade tenra, até a velhice, passando antes pela juventude,
idade madura e morte.”
Concorde ou não com esse comentário, mas justifique sua resposta.
Óbito
do autor
Algum tempo hesitei se devia abrir
estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o
meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo
nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira
é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem
a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e
mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no
cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da
tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de
Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro,
possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze
amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que
chovia - peneirava - uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e
tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta
engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de minha cova: - "Vós,
que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece
estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm
honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens
escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má
que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor
ao nosso ilustre finado". ASSIS,
Machado de. Memórias póstumas de Brás
Cubas. São Paulo, Abril Cultural, 1978. P. 15.
Glossário - campa: sepulcro; galante: garboso,
gracioso.
2.
Explique porque se pode dizer que esse trecho é metalinguístico.
3. Explicite
um trecho em que se encontre a famosa “ironia machadiana”.
4. Em que
pessoa é narrado o texto?
5. Quem é o
narrador?
6. Ao dizer
“Onze amigos!”, o narrador mostra que é pequeno o número de pessoas com que se
pode realmente contar. Isso revela uma certa atitude do narrador diante da
amizade e das relações interpessoais. Que atitude é essa?
7. Qual a diferença que se pode estabelecer entre
“autor defunto” e “defunto autor”?
8. (FUVEST - Adaptada) Imagine
que você tenha uma prova do livro Memórias
póstumas de Brás Cubas e que não
tenha entendido a seguinte metáfora “a
campa foi outro berço”. Xavier, seu amigo de longa data, leu e interpretou
muito bem, segundo o professor, o texto.
Sendo
assim, demonstre a interpretação dada por Xavier para a metáfora “a campa foi
outro berço”.
9.
(ENEM) No trecho a seguir, o narrador, ao descrever a personagem, critica
sutilmente um outro estilo de época: o Romantismo.
Naquele tempo contava apenas
uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura de nossa
raça e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a
primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em
que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas
também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era
bonita, fresca, saía das mãos da natureza cheia daquele feitiço, precário e
eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da
criação.
ASSIS, Machado de. Memórias
póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson, 57.
9. A frase do texto em que se
percebe a crítica do narrador ao Romantismo está transcrita na alternativa:
a) “... o autor sobredoura a realidade
e fecha
os olhos às sardas e espinhas ...”
b) “... era talvez a mais
atrevida criatura da nossa raça ...”
c) “Era bonita, fresca, saía das
mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, ...”
d) “Naquele tempo contava apenas
uns quinze ou dezesseis anos ...”
e) “... o indivíduo passa a outro
indivíduo, para os fins secretos da criação.”
10.
Quincas Borba, personagem criado por Machado de Assis, era autor de Humanitas,
filosofia única, eterna, comum, indivisível e indestrutível, que pregava a
eterna luta do homem pela sobrevivência, ressaltando o predomínio dos mais
espertos.
Existe uma máxima sobre a qual
ele resume suas explanações sobre essa filosofia. Assinale-a.
a) Devagar se vai ao longe.
b) Ao vencedor, as batatas.
c) Quem tudo quer tudo perde.
d) O essencial é invisível para os
olhos.
e) Não se jogam pérolas aos
porcos.
AUXILIARES
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio
ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha
morte. Suposto que o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas
considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou
propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi
outro berço; o segundo é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.
Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis
11. Essa é a abertura do famoso romance de Machado de Assis. Dentro
desse contexto, já dá para se ver o tipo de narrativa que será explorada.
Assinale a alternativa correta a esse respeito.
a) A narrativa decorre
de forma cronologicamente correta, de acordo com a passagem do tempo:
infância, juventude, maturidade e velhice.
b) A linearidade das
ações apresenta cenas de suspense, dado o comportamento
inusitado dos personagens.
c) Não há como prever
o final da narrativa, já que seu enredo é, propositadamente, complicado.
d) A ação terá, como
cenário, os diversos centros cosmopolitas do mundo.
e) O autor usa o
recurso do
flashback devido a sua intenção de iniciar o romance pelo
“fim”.
12. Em relação à questão anterior, infere-se que a linguagem dispõe
de um recurso enriquecedor: a disposição das palavras no espaço frasal. Sendo
assim, que tipo de leitura pode-se fazer dessas duas expressões: “autor
defunto” e “defunto autor”?
a) A colocação da
palavra defunto após a palavra autor leva-nos a pensar que o segundo elemento
está em fase final de carreira.
b) Defunto autor
remete à ideia de que a pessoa irá escrever suas memórias dentro
de um cemitério.
c) Ambas as expressões
transmitem a mesma ideia, com iguais valores semânticos.
d) A expressão defunto
autor aparece de forma metaforizada, original, privilegiando uma nova forma de
narração autobiográfica.
e) Ambas as
construções não têm expressão na obra biográfica de Machado de Assis.
13. Considerando o que você já leu e/ou viu sobre o
livro Memórias póstumas de Brás Cubas e atentando ainda para as considerações
que Brás Cubas faz no trecho lido quanto à maneira de começar a escrever seu
livro, responda: Brás Cubas contou sua história pelo “uso vulgar” ou ele fez
de forma diferente?
Marcela
amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai logo
que teve aragem dos quinze contos sobressaltou-se deveras; achou que o caso
excedia as raias de um capricho juvenil.
—
Dessa vez, disse ele, vais para Europa, vais cursar uma Universidade,
provavelmente Coimbra, quero-te homem sério e não arruador e não gatuno.
E
como eu fizesse um gesto de espanto:
—
Gatuno, sim senhor, não é outra coisa um filho que me faz isso.
Machado
de Assis – Memórias póstumas de Brás
Cubas
14. De acordo com essa passagem
da obra, pode-se antecipar a visão que Machado de Assis tinha sobre as pessoas
e sobre a sociedade. A esse respeito, assinale a alternativa correta.
a) O amor é fruto de interesse e
compõe o pilar das instituições hipócritas.
b) O amor, se sincero, supera
todas as barreiras, inclusive as financeiras.
c) O caráter autoritarista moldava
as relações familiares, principalmente entre pai e filho.
d) Havia medo de
que a marginalidade envolvesse os jovens daquela época.
e) O amor era glorificado e
apontado como o único caminho para redimir as
pessoas.
15. Com
efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-me uma ideia no
trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a
pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer.
Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os
braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.
Memórias
póstumas de Brás Cubas –
Machado de Assis
Sobre o texto mostrado, pode-se
dizer que:
a) o autor faz uma abordagem
superficial da situação.
b) o autor preocupa-se com os
detalhes, por meio de minuciosa descrição.
c) o autor dá relevância a outras
circunstâncias, negligenciando o foco do assunto.
d) o autor não mostra preocupação
com o discernimento do leitor, pois apenas sugere situações.
e) contempla a si
próprio, num ritual egocêntrico e narcisista.
Capítulo
III
O
emplasto
Com
efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia
no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear,
a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu
deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços
e as pernas, até formar um X: decifra-me ou devoro-te.
Essa
ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto
anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na
petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse
resultado, verdadeiramente cristão.
(...)
Machado
de Assis – Memórias póstumas de Brás
Cubas
16.
Relativamente ao trecho lido, responda em que tipo de foco narrativo ele está
estruturado?
17.
Destaque uma frase que contenha palavra que justifique sua resposta.
18.
Traduza a expressão anti-hipocondríaco, que aparece no 2º parágrafo.
19. Memórias póstumas de Brás Cubas utiliza
recursos estilísticos extraordinários, como a digressão e a metalinguagem.
Defina-os.
20.
A cronologia tradicional dos fatos, dentro da narrativa, faz com que a assimilação
do enredo seja mais fácil. Machado de Assis, em Memórias póstumas de Brás
Cubas, rompe essa tradição e opta por um início “às avessas”. Identifique
esse recurso estilístico e explique-o, considerando a obra citada.
RESPOSTAS:
1.
RESPOSTA: A
narrativa machadiana, diferentemente do apontado pelo trecho acima, não obedece
à tradição da narrativa, muito pelo contrário. Machado de Assis, por meio de um
texto ziguezagueante, apoiado muitas vezes apenas na memória do narrador, traz
uma literatura que faz saltos, que deixa espaços a serem preenchidos pelo
leitor.
2.
RESPOSTA: Pelo narrador fazer
referências à obra que está produzindo, pode-se dizer que este trecho é
metalinguístico. Como exemplo: “Algum tempo hesitei se devia abrir estas
memórias pelo princípio ou pelo fim (...)”
3.
RESPOSTA: A ironia consiste em um
expediente linguístico que apresenta um enunciado que, semanticamente, quer
dizer o inverso do que está dito de fato, revelando uma atitude de humor sutil
por parte do narrador. O trecho em que melhor se percebe esse expediente é “que
levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia
no discurso que proferiu à beira de minha cova”, já que o discurso proferido
não tem nada de original ou engenhoso.
4.
RESPOSTA:
O texto é narrado em primeira pessoa (1ª pessoa do singular “EU”).
5.
RESPOSTA: O narrador das “Memórias” é
Brás Cubas, um defunto autor.
6.
RESPOSTA: O narrador revela seu
ceticismo, isto é, sua desconfiança na existência de uma amizade verdadeira. A
rememoração da teoria do humanitismo nos ajuda a entender que a amizade,
nos textos de Machado de Assis, só vale a partir do momento em que há alguém
que aproveite dessa amizade, isto é, o humanitismo nos revela como sendo
egoístas e egocêntricos, pouco voltados para o cultivo de relações interpessoais
sinceras, transparentes e abertas.
7.
RESPOSTA: Autor defunto é aquele que
escrevia em vida e morreu, defunto autor é aquele que morre e, em seguida,
torna-se autor (caso de Brás Cubas).
8.
RESPOSTA: A interpretação dada por
Xavier só pode ser a de que após a morte, o enterro, o sepultamento (vocábulos
pertencentes ao campo semântico de “campa”), o autor renasce, isto é, a morte
do HOMEM Brás Cubas faz nascer o AUTOR Brás Cubas.
9.
RESPOSTA: A
10.
RESPOSTA: B
11.
RESPOSTA: E
12.
RESPOSTA: D
13.
RESPOSTA:
Brás Cubas narra a sua história de modo original, de maneira ziguezagueante e
digressiva, fazendo intervenções e conversando com o leitor e, principalmente,
deixando de lado a linearidade da narrativa e, portanto, indo contra o que
seria o “modo vulgar” de se narrar.
14. RESPOSTA: A
15.
RESPOSTA: C
16.
RESPOSTA: O texto está estruturado na
1ª pessoa do singular, com narrador onisciente.
17.
RESPOSTA: “Com efeito, um dia de
manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no
trapézio que eu tinha no cérebro.” Os pronomes “me” e “eu” deixam claro que é o próprio narrador quem
conta a história.
18.
RESPOSTA:
Como a “ideia fixa” do narrador era a de inventar um emplasto que eliminasse
TODOS os males do mundo, tal emplasto seria, por certo, anti-hipocondríaco, uma
vez que o hipocondríaco tende a se medicar muitas vezes mais do que o
necessário. A medicação exagerada seria extinta com a invenção do emplasto,
portanto.
19.
RESPOSTA: A
digressão é o expediente usado pelo narrador para desviar o foco principal da
história e introduzir um comentário (crítico, literário, filosófico) alheio à
narrativa de base. A metalinguagem, por sua vez, consiste no fato da linguagem
se debruçar sobre a própria linguagem, é quando o autor nos conta sobre o
processo narrativo, ou quando nos conta acerca das ideias que o cercavam para a
construção do livro dentro do próprio livro.
20.
RESPOSTA: Esse
recurso é identificado como FlashBack ou, ainda, como mera “narrativa
não-linear”, nele o autor foge da estruturação clássica de “início, meio e fim”
e coloca esses pontos aos acaso, sem se preocupar com a ordem. Em “Memórias
póstumas de Brás Cubas”, nosso defunto autor vai nos contando sua trajetória
através da morte e passando aleatoriamente pelas outras fazes da vida.
quarta-feira, 16 de abril de 2014
DESAFIO DE ESCANSÃO e METRIFICAÇÃO
Olá, queridos alunos! Lanço-lhes um desafio em 10 questões sobre Literatura Medieval, Camões e, principalmente, sobre escansão e metrificação dos versos.
Alguns de vocês já tiveram essas aulas comigo, outros ainda não. Façam de acordo com o que conseguirem.
Bons estudos!
Texto para o teste 1.
Se eu podess’ora meu coraçon,
Senhor1, forçar e poder-vos
dizer
quanta coita2 mi fazedes
sofrer
por vós, cuid’eu, assi Deus mi perdon,
que haveríades doo3 de mi.
Ca4, senhor, pero me fazedes
mal
e mi nunca quisestes fazer bem,
se soubéssedes quanto mal mi vem
por vós, cuid’eu, par Deus que pod’e
val5,
que haveríades doo de mi.
E, pero mi havedes gran desamor,
se soubéssedes quanto mal levei
e quanta coita, des que vos amei,
por vós, cuid’eu, per boa fé, senhor,
que haveríades doo de mi.
E mal seria se nom foss’assi.
(D. Dinis. In Portal Galego da Língua: Cantigas trovadorescas. Disponível em:
http://agalgz.org)
1 – Senhor: senhora. 2 – Coita: sofrimento de
amor. 3 – Doo: dó. 4 – Ca: porque. 5 – Val: valer, ajudar
1. (UFPA-PA – MODELO ENEM) – Considerando-se
que o texto transcrito é uma cantiga de amor, é correto afirmar, sobre esse
tipo de produção poética, que
a) o trovador, de acordo com as regras do
amor cortês, ao cantar a alegria de amar, na cantiga de amor, revela em seus
poemas o nome da mulher amada.
b) o homem, nesse tipo de composição poética,
nutre esperanças de um dia conquistar a mulher amada, que, mesmo sendo
imperfeita, é objeto de desejo.
c) na lírica trovadoresca, essa modalidade de
cantiga caracteriza-se por conter a confissão amorosa da mulher, que lamenta a
ausência do namorado que viajou e a abandonou.
d) o trovador se coloca no lugar da mulher
que sofre com a partida do amado e confessa seus sentimentos a um confidente
(mãe, amiga ou algum elemento da natureza).
e) o eu lírico é um homem apaixonado que
sofre e se coloca na posição de servo da “senhor”; a mulher (ou o seu amor) é vista
como algo inatingível, aspecto que confere à cantiga de amor um tom
lamentativo.
Texto para o teste 2.
CANTIGA SUA PARTINDO-SE
Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tam tristes, tam saüdosos,
tam doentes da partida,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes,
tam fora d’esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
(João Ruiz de Castelo Branco)
2. Assinale a alternativa incorreta sobre o poema transcrito.
a) Os versos apresentam sete sílabas
métricas.
b) O esquema de rimas é: ABAB – CDCCD – ABAB.
c) O eu lírico expressa-se por meio de
hipérboles.
d) O verso utilizado representa uma
antecipação renascentista.
e) A linguagem desse poema nos é mais
acessível que a linguagem das cantigas trovadorescas.
3. Sobre o Humanismo, identifique a alternativa
falsa.
a) Em sentido amplo, designa a atitude de
valorização do homem, de seus atributos e realizações.
b) Configura-se na máxima de Protágoras: “O
homem é a medida de todas as coisas”.
c) Rejeita a noção do homem regido por leis
sobre naturais e opõe-se ao misticismo.
d) Designa tanto uma atitude filosófica in
temporal quanto um período específico da evolução da cultura ocidental.
e) Fundamenta-se na noção bíblica de que o
homem é pó e ao pó retornará, e de que só a transcendência liberta o homem de
sua insignificância terrena.
(UNESP-2014) As questões a seguir abordam um poema
de Raul de Leoni (1895- 1926):
A ALMA DAS COUSAS SOMOS NÓS...
Dentro do eterno giro universal
Das cousas, tudo vai e volta à alma da
gente,
Mas, se nesse vaivém tudo parece igual
Nada mais, na verdade,
Nunca mais se repete exatamente...
Sim, as cousas são sempre as mesmas na
corrente
Que no-las leva e traz, num círculo
fatal;
O que varia é o espírito que as sente
Que é imperceptivelmente desigual,
Que sempre as vive diferentemente,
E, assim, a vida é sempre inédita,
afinal...
Estado de alma em fuga pelas horas,
Tons esquivos e trêmulos, nuanças
Suscetíveis, sutis, que fogem no Íris
Da sensibilidade furta-cor...
E a nossa alma é a expressão fugitiva
das cousas
E a vida somos nós, que sempre somos
outros!...
Homem inquieto e vão que não repousas!
Para e escuta:
Se as cousas têm espírito, nós somos
Esse espírito efêmero das cousas,
Volúvel e diverso,
Variando, instante a instante,
intimamente,
E eternamente,
Dentro da indiferença do Universo!...
(Luz mediterrânea, 1965.)
4. Embora pareça constituído de versos livres
modernistas, o poema em questão ainda segue a versificação medida, combinando
versos de diferentes extensões, com predomínio dos de doze e dez sílabas métricas.
Assinale a alternativa que indica, na primeira estrofe, pela ordem em que
surgem, os versos de dez sílabas métricas, denominados decassílabos.
a) 1 e 5.
b) 3 e 4.
c) 1, 2 e 3.
d) 2 e 3.
e) 1, 3 e 5
5. Considerando o eixo temático do poema e o
modo como é desenvolvido, verifica-se que nele se faz uma reflexão de fundo
a) estético.
b) político.
c) religioso.
d) filosófico.
e) científico
(UNESP - 2012) Instrução: As questões de
números 6 e 7 tomam por base um poema de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810).
18
Não vês aquele velho respeitável,
que à muleta encostado,
apenas mal se move e mal se arrasta?
Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo,
o tempo arrebatado,
que o mesmo bronze gasta!
Enrugaram-se as faces e perderam
seus olhos a viveza:
voltou-se o seu cabelo em branca neve;
já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,
nem tem uma beleza
das belezas que teve.
Assim também serei, minha Marília,
daqui a poucos anos,
que o ímpio tempo para todos corre.
Os dentes cairão e os meus cabelos.
Ah! sentirei os danos,
que evita só quem morre.
Mas sempre passarei uma velhice
muito menos penosa.
Não trarei a muleta carregada,
descansarei o já vergado corpo
na tua mão piedosa,
na tua mão nevada.
As frias tardes, em que negra nuvem
os chuveiros não lance,
irei contigo ao prado florescente:
aqui me buscarás um sítio ameno,
onde os membros descanse,
e ao brando sol me aquente.
Apenas me sentar, então, movendo
os olhos por aquela
vistosa parte, que ficar fronteira,
apontando direi: — Ali falamos,
ali, ó minha bela,
te vi a vez primeira.
Verterão os meus olhos duas fontes,
nascidas de alegria;
farão teus olhos ternos outro tanto;
então darei, Marília, frios beijos
na mão formosa e pia,
que me limpar o pranto.
Assim irá, Marília, docemente
meu corpo suportando
do tempo desumano a dura guerra.
Contente morrerei, por ser Marília
quem, sentida, chorando
meus baços olhos cerra.
(Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu e
mais poesias. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1982.)
06. Assinale a alternativa que indica a ordem
em que os versos de dez e de seis sílabas se sucedem nas oito estrofes do
poema.
(A) 6, 10, 6, 6, 10, 10.
(B) 10, 6, 10, 10, 6, 6.
(C) 10, 10, 6, 10, 6, 6.
(D) 10, 6, 10, 6, 10, 6.
(E) 6, 10, 6, 10, 6, 6
07. Marque a alternativa em que o verso apresenta
acento tônico na segunda e na sexta sílabas:
(A) o tempo arrebatado.
(B) das belezas que teve.
(C) daqui a poucos anos.
(D) e ao brando sol me aquente.
(E) na mão formosa e pia.
(UNESP - 1998) INSTRUÇÃO: As questões de
números 07 a 10 tomam por base uma passagem do Canto III de Os Lusíadas, de Luís de Camões
(1524?-1580), um fragmento do poema épico Invenção
de Orfeu, de Jorge de Lima (1893-1953), e a letra do fado moderno português
Formosa Inês, de Rosa Lobato de
Faria, gravado pelo intérprete moçambicano Paulo Bragança.
EPISÓDIO DE INÊS DE CASTRO
Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste, e di[g]no da memória
Que do sepulcro os homens desenterra,
Que de[s]pois de ser morta foi Rainha.
Tu só, tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fru[i]to,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus formosos olhos nunca enxu[i]to,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. in: Obra Completa.
Rio de Janeiro: Aguilar, 1963, p. 86-7.
MUSA INÊS
Estavas linda Inês posta em repouso
Mas aparentemente bela Inês;
Pois de teus olhos lindos já não ouso
Fitar o torvelinho que não vês,
O suceder dos rostos cobiçoso
Passando sem descanso sob a tez;
Que eram tudo memórias fugidias,
Máscaras sotopostas que não vias.
Tu, só tu, puro amor e glória crua,
Não sabes o que à face traduzidas.
Estavas, linda Inês, aos olhos nua,
Transparente no leito em que jazias.
Que a mente costumeira não conclua,
Nem conclua da sombra que fazias,
Pois, Inês em repouso é movimento,
Nada em Inês é inanimado e lento.
As fontes dulçurosas desta ilha
Promanam da rainha viva-morta;
O punhal que a feriu é doce tília
De que fez a atra brisa santa porta,
E em cujos ramos suave se enrodilha,
E segredos de amor ao céu transporta.
Não há na vida amor que em vão termine,
Nem vão esquecimento que o destine.
LIMA, Jorge de. Invenção de Orfeu.in: Poesia
– 3. Rio de Janeiro: INL/Aguilar, 1974, p.97.
FORMOSA INÊS
Mário Pacheco / Rosa Lobato de Faria
Antiga como a sina dos amantes,
A audácia de morder o infinito,
Acesa pelas noites delirantes,
Paixão que se fez lenda e se fez mito.
Depois foram razões que o Reino tece,
Foi o dia mais triste, o mais maldito,
A espada ao alto erguida e foi a prece,
Amor desfeito em sangue... e foi o
grito.
D. Pedro, desvairado brada e clama,
Leva da terra em terra a sua amada,
Não tem morada certa, pois quem ama,
Saudade tem por única morada.
Da morta, fez rainha, porque é louco,
Porque é amante e rei e português,
E eu que te cantei e sou tão pouco,
Também te beijo a mão formosa Inês.
in: O Mar – A Música dos Povos de Língua
Portuguesa. São Paulo: Oboré, ENL CD001, 1997.
07. A morte de Inês de Castro, no ano de
1355, e as circunstâncias trágicas que a envolvem têm sido um dos temas
amorosos mais caros aos escritores portugueses, justamente por simbolizar
aspectos radicais do sentimentalismo lusitano. Inês era uma formosa dama castelhana,
que acompanhara a infanta D. Constança quando esta chegou a Portugal para
casar-se com o príncipe-herdeiro D. Pedro. Já casado com Constança,
Pedro se apaixona por Inês, o que desperta
iras e intrigas na Corte. Essa situação se complica após a morte de
Constança, e culmina com o assassinato de
Inês por ordem do rei D. Afonso IV, pai de D. Pedro. Tempos depois, já rei de
Portugal, D. Pedro realiza cruel vingança contra os assassinos de sua amada, e
jura que era casado clandestinamente com D. Inês. Tomando por base esses fatos
históricos e lendários, releia atentamente a letra do fado Formosa Inês e, a seguir,
a) aplicando-se em integrar seu melhor
desempenho de análise e capacidade de
síntese, e tendo em vista o contexto
indicado acima, interprete o segundo verso da última estrofe;
b) como parte da resposta anterior, aponte o
efeito significativo dado pela repetição
do conectivo “e”.
08. Considerando que a poesia do classicismo português
é altamente simétrica e regular,
releia as estrofes de Camões e Jorge de Lima e, a seguir:
a) Aponte, em Invenção de Orfeu, dois processos que revelem a mesma simetria e
regularidade observável no poema camoniano. Utilize, para isso, os seus
conhecimentos em escansão poética e em
b) Indique, em Se dizem, fero Amor, que a sede tua (de Camões) e Estavas, linda Inês, aos olhos nua, (de Jorge
de Lima), quais acentos de intensidade (tonicidade fonética) proporcionam o
mesmo ritmo a esses versos.
09. As estrofes de Camões apresentam quatro
palavras com uma letra grafada entre colchetes: di[g]no, de[s]pois, fru[i]to e enxu[i]to. Com esse proceder, o editor chama nossa atenção para o
fato de podermos ler digno ou dino, depois ou despois, fruto ou fruito, enxuto
ou enxuito, variantes que coexistiram durante muito tempo. A evolução da
Língua Portuguesa culta consagrou as formas digno,
depois, fruto e enxuto embora, no
falar de algumas regiões, ainda se conservem despois, fruito, enxuito e escuito. Com base neste comentário:
a) Responda quais as variantes – fruto ou fru[i]to, enxuto ou enxu[i]to – foram efetivamente
utilizadas por Camões na última estrofe.
b) Justifique sua resposta apontando o procedimento versificatório (escansão
poética) que lhe permitiu chegar a essa conclusão.
10. O infortúnio amoroso de D. Pedro e Inês
de Castro, como já vimos, atravessa o tempo por obra de grandes escritores
portugueses (além de brasileiros, espanhóis e franceses). Diversamente
interpretado, se faz presente em todas as épocas e gêneros literários, às vezes
tendo-se como fonte as antigas crônicas de Lopes de Ayala, Fernão Lopes e Rui
de Pina, às vezes tendo como inspiração obras de outros clássicos portugueses.
Camões deve ter-se inspirado nas trovas de
Garcia de Resende (Cancioneiro Geral,
1516) para reanimar o tema nessa passagem de Os Lusíadas. Com base nesta informação, releia atentamente os
textos de Camões e Jorge de Lima e, a seguir:
a) Explique por que é possível concluir que o
escritor brasileiro Jorge de Lima teve como fonte a abordagem do tema feita por
Luís de Camões e não por outro escritor ou historiador.
b) Interprete o sentido figurado do signo “repouso” no primeiro verso de
Jorge de Lima.
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