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quarta-feira, 11 de outubro de 2017

MAM, Queer Museu, Intelectuais e Educação: uma questão de arte apenas?

Precisamos falar sobre o caso do MAM, mas também precisamos falar sobre educação.
O economista e filósofo Joel Pinheiro da Fonseca abordou, em texto publicado pela Folha (10/10/2017), as "duas morais" que parecem estar em conflito no caso da performance realizada no MAM, de São Paulo, e que contava com um artista nu que fazia uma releitura da obra "O bicho", de Lygia Clark. Para o articulista, há dois universos em jogo: o da classe artística e o da classe média brasileiras. Os artistas não "suportariam" críticas, pois sempre as consideram como "ofensa"; enquanto a classe média não se importaria com a "arte", mas com a defesa do "bem-estar" da criança ante uma questão de sexualização precoce.
Diante desse quadro, há dois pontos que me parecem urgentes: os "intelectuais" e a "questão da educação". 
Os intelectuais parecem, por vezes, esquecer que há um mundo para fora da "bolha" em que vivem. As pesquisas que pouco ou nada dizem sobre a sociedade em geral ou que não conseguem/ não querem sair dos limites do mundo universitário e pós-graduado para assumir o essencial fator de extensão à comunidade são a tônica dessas intervenções. Dessa forma, os novos olhares sobre as questões humanas -- sociais, filosóficas ou artísticas (para ficar no ramo que mais conheço) -- não chegam ao grande público e, portanto, não fazem parte de uma discussão, de uma percepção e de um letramento amplos e democráticos. Na verdade, o que normalmente vemos é um grupo escrevendo, publicando e interagindo com as pessoas desse mesmo grupo que, por isso mesmo, quase sempre aplaudem de forma irrestrita o que é apresentado (haja vista, por exemplo, as defesas de dissertações e teses nas universidades brasileiras, que raramente conseguem ultrapassar os muros do metaconhecimento).
Disso vem a segunda questão: a educação. Se queremos que nossos valores de arte e cidadania sejam compreendidos pelo grande público, precisamos fazer com que a educação seja um valor. Não apenas a educação formal, mas a informal também. Como podemos fazer com que se entenda a arte contemporânea e conceitual se não ousarmos sair de nossos grupinhos e assumirmos que pode (não que deve, necessariamente) haver uma pedagogia e uma didática da arte?
Ainda que seja fundamental o "choque" e o "desconforto" para muitas estéticas contemporâneas, não estamos sendo razoáveis quando esperamos que o público médio "saiba" do que está falando quando não há uma educação para o choque e o desconforto. Mal comparando, é como se quiséssemos que uma criança pulasse a fase do engatinhar e fosse direto para o caminhar. Queimando etapas, teremos mais problemas do que soluções.
Apenas como ilustração, sou professor de Linguagens e Códigos em três colégios. Estamos, nessas últimas semanas, falando sobre arte moderna, de vanguarda e contemporânea. trabalho em colégios cujo público-alvo é de classe média e tem poder aquisitivo relativamente alto. Mesmo assim, mesmo com cautela, mesmo sem questionar valores culturais e morais os mais conservadores possíveis, há uma dificuldade extrema em fazê-los compreender o espelhamento da arte, a dificuldade em definir seus limites, o debate estético etc. etc. etc. Quando saio da sala de aula e percebo que eles estão questionando o olhar que eles têm sobre as coisas, sinto-me com o dever cumprido. Mas quantos são os que podem, gradualmente, serem levados a repensar o olhar no "mundo real"? 
Daí meu ponto: não podemos ignorar que o grande público tenha ressalvas ao que ele entende como "ataque moral", por isso devemos ter uma postura mais atuante na sociedade, escapando um pouco dos olhares que sempre nos cumprimentam pelo que fazemos, e sendo mais didáticos e ativos socialmente; ao mesmo tempo, não podemos tolerar que essa questão estética seja transformada em uma briga política cega de ódio. 
É necessário levar ao questionamento de si, a fim de que sejamos pessoas que compreendem melhor os outros e o entorno de nós mesmos, mas, de preferência, devemos entender que se não levarmos em consideração nossa audiência, podemos naufragar em bons propósitos que se tornaram inúteis do ponto de vista prático.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

2ª MOSTRA DE ARTES DO COC ARARAQUARA

2º MAC – MOSTRA DE ARTES DO COC 
03 out. 19h - 21h – 
TEATRO WALLACE LEAL 

ENTRE A LIBERDADE E A REPRESSÃO 

Em 2014, completamos cem anos da Grande Guerra e cinquenta do Golpe Militar no Brasil. Pensando nisso, o COC – ARARAQUARA preparou a 2ª MAC, cujos temas principais são o trabalho, a arte e o pensamento entre a liberdade e a repressão.

ATRAÇÕES:
· Espaço poesia: declamação de textos autorais e de poemas da literatura marginal brasileira;
· Exibição de vídeos sobre a questão da liberdade e da repressão;
· Mostra de artes visuais: desenhos e pinturas feitos pelos alunos;
· Esquetes teatrais abordando Política, Filosofia e Artes;
· Intervenções musicais abordando a História brasileira;
· Literatura e música: relações entre o Modernismo e a Tropicália;
· Espetáculo de dança;
· Músicas do pós-ditadura: Vandré, Raul, Legião.

Participação dos alunos do 1º e 2º anos do Ensino Médio e dos professores da instituição.

Onde: Teatro Wallace Leal. Avenida Espanha, 485, entre as ruas 3 e 4. No mesmo quarteirão da casa da cultura.

domingo, 24 de agosto de 2014

CAMÕES

Querid@s Alun@s!

A fim de aumentar nossas leituras, envio-lhes um site com alguns dos poemas de nosso grande Camões:

http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/camoes.html

Usem-no à vontade! Leiam-no a valer!

Ainda, algumas análises da Professora Graça Coelho, da Escola Secundária Lousada, de Portugal:

https://ciberjornal.files.wordpress.com/2009/01/a-lc3adrica-de-camc3b5es-e-anc3a1lise-de-poemas-10c2baano.pdf

P.S.
Ah, Camões, "quanto de meu estado me acho incerto" quando estou posto a lê-lo e relê-lo. Sei que "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", mas não me canso de dizer que ainda que a "alma minha, gentil" tenha partido, sempre sobram os poemas e a eternização do momento.

domingo, 25 de maio de 2014

Lista de exercícios - Memórias Póstumas de Brás Cubas (com gabarito)

Olá, queridos alun@s! Como prometido, aí vai uma lista com vários exercícios que podem ser úteis na complementação da leitura do livro Memórias póstumas de Brás Cubas, de nosso ilustre Machado de Assis, o mais popular "Machadão", aproveito também para indicar-lhes o link do YouTube para o filme homônimo: https://www.youtube.com/watch?v=ap-SzXEiPGc
Façam bom proveito!

1. “A narrativa machadiana em Dom Cas­murro e Memórias póstumas de Brás Cubas obedece à tradição da narrativa linear, de acordo com a passagem do tempo no reló­gio, pela qual o leitor observa a evolução da vida dos personagens, desde o nascimento ou a idade tenra, até a velhice, passando antes pela juventude, idade madura e morte.”

Concorde ou não com esse comentário, mas justifique sua resposta.

Óbito do autor
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia - peneirava - uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de minha cova: - "Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado".                         ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo, Abril Cultural, 1978. P. 15.
Glossário - campa: sepulcro; galante: garboso, gracioso.

2. Explique porque se pode dizer que esse trecho é metalinguístico.

3. Explicite um trecho em que se encontre a famosa “ironia machadiana”.

4. Em que pessoa é narrado o texto?

5. Quem é o narrador?

6. Ao dizer “Onze amigos!”, o narrador mostra que é pequeno o número de pessoas com que se pode realmente contar. Isso revela uma certa atitude do narrador diante da amizade e das relações interpessoais. Que atitude é essa?

7.  Qual a diferença que se pode estabelecer entre “autor defunto” e “defunto autor”?

8. (FUVEST - Adaptada) Imagine que você tenha uma prova do livro Memórias póstumas de Brás Cubas e que não tenha entendido a seguinte metáfora “a campa foi outro berço”. Xavier, seu amigo de longa data, leu e interpretou muito bem, segundo o professor, o texto.
Sendo assim, demonstre a interpretação dada por Xavier para a metáfora “a campa foi outro berço”.

9. (ENEM) No trecho a seguir, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmen­te um outro estilo de época: o Romantismo.
Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida cria­tura de nossa raça e, com certeza, a mais volun­tariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o ros­to nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson, 57.

9. A frase do texto em que se percebe a críti­ca do narrador ao Romantismo está transcrita na alternativa:
a) “... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas ...”
b) “... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça ...”
c) “Era bonita, fresca, saía das mãos da na­tureza, cheia daquele feitiço, precário e eter­no, ...”
d) “Naquele tempo contava apenas uns quin­ze ou dezesseis anos ...”
e) “... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”
10. Quincas Borba, personagem criado por Machado de Assis, era autor de Humanitas, filosofia única, eterna, comum, indivisível e indestrutível, que pregava a eterna luta do homem pela sobrevivência, ressaltando o pre­domínio dos mais espertos.
Existe uma máxima sobre a qual ele re­sume suas explanações sobre essa filosofia. Assinale-a.

a) Devagar se vai ao longe.
b) Ao vencedor, as batatas.
c) Quem tudo quer tudo perde.
d) O essencial é invisível para os olhos.
e) Não se jogam pérolas aos porcos.
AUXILIARES

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto que o uso vulgar seja co­meçar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; o segundo é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.
Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis
11. Essa é a abertura do famoso romance de Machado de Assis. Dentro desse contexto, já dá para se ver o tipo de narrativa que será explorada. Assinale a alternativa correta a esse respeito.

a) A narrativa decorre de forma cronologi­camente correta, de acordo com a passagem do tempo: infância, juventude, maturidade e velhice.
b) A linearidade das ações apresenta cenas de suspense, dado o comportamento inusi­tado dos personagens.
c) Não há como prever o final da narrati­va, já que seu enredo é, propositadamente, complicado.
d) A ação terá, como cenário, os diversos centros cosmopolitas do mundo.
e) O autor usa o recurso do flashback devi­do a sua intenção de iniciar o romance pelo “fim”.
12. Em relação à questão anterior, infere-se que a linguagem dispõe de um recurso enriquecedor: a disposição das palavras no espaço frasal. Sendo assim, que tipo de lei­tura pode-se fazer dessas duas expressões: “autor defunto” e “defunto autor”?

a) A colocação da palavra defunto após a pa­lavra autor leva-nos a pensar que o segundo elemento está em fase final de carreira.
b) Defunto autor remete à ideia de que a pessoa irá escrever suas memórias dentro de um cemitério.
c) Ambas as expressões transmitem a mes­ma ideia, com iguais valores semânticos.
d) A expressão defunto autor aparece de forma metaforizada, original, privilegiando uma nova forma de narração autobiográfica.
e) Ambas as construções não têm expressão na obra biográfica de Machado de Assis.
13. Considerando o que você já leu e/ou­ viu sobre o livro Memórias póstumas de Brás Cubas e atentando ainda para as conside­rações que Brás Cubas faz no trecho lido quanto à maneira de começar a escrever seu livro, responda: Brás Cubas contou sua his­tória pelo “uso vulgar” ou ele fez de forma diferente?
Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai logo que teve aragem dos quinze contos sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.
— Dessa vez, disse ele, vais para Europa, vais cursar uma Universidade, provavelmente Coimbra, quero-te homem sério e não arruador e não gatuno.
E como eu fizesse um gesto de espanto:
— Gatuno, sim senhor, não é outra coisa um filho que me faz isso.
Machado de Assis – Memórias póstumas de Brás Cubas
14. De acordo com essa passagem da obra, po­de-se antecipar a visão que Machado de Assis tinha sobre as pessoas e sobre a sociedade. A esse respeito, assinale a alternativa correta.

a) O amor é fruto de interesse e compõe o pilar das instituições hipócritas.
b) O amor, se sincero, supera todas as barrei­ras, inclusive as financeiras.
c) O caráter autoritarista moldava as relações familiares, principalmente entre pai e filho.
­d) Havia medo de que a marginalidade envolvesse os jovens daquela época.
e) O amor era glorificado e apontado como o único caminho para redimir as pessoas.

15. Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pen­durada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.
Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis
Sobre o texto mostrado, pode-se dizer que:
a) o autor faz uma abordagem superficial da situação.
b) o autor preocupa-se com os detalhes, por meio de minuciosa descrição.
c) o autor dá relevância a outras circunstân­cias, negligenciando o foco do assunto.
d) o autor não mostra preocupação com o discer­nimento do leitor, pois apenas sugere situações.
­e) contempla a si próprio, num ritual egocêntrico e narcisista.
Capítulo III
O emplasto
Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até formar um X: decifra-me ou devoro-te.
Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa me­lancólica humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. (...)
Machado de Assis – Memórias póstumas de Brás Cubas
16. Relativamente ao trecho lido, responda em que tipo de foco narrativo ele está es­truturado?
17. Destaque uma frase que contenha palavra que justifique sua resposta.
18. Traduza a expressão anti-hipocondríaco, que aparece no 2º parágrafo.
19. Memórias póstumas de Brás Cubas utiliza recursos estilísticos extraordinários, como a digressão e a metalinguagem. Defina-os.
20. A cronologia tradicional dos fatos, dentro da narrativa, faz com que a assimi­lação do enredo seja mais fácil. Machado de Assis, em Memórias póstumas de Brás Cubas, rompe essa tradição e opta por um início “às avessas”. Identifique esse recurso es­tilístico e explique-o, considerando a obra citada.
RESPOSTAS:
1.       RESPOSTA: A narrativa machadiana, diferentemente do apontado pelo trecho acima, não obedece à tradição da narrativa, muito pelo contrário. Machado de Assis, por meio de um texto ziguezagueante, apoiado muitas vezes apenas na memória do narrador, traz uma literatura que faz saltos, que deixa espaços a serem preenchidos pelo leitor.

2.       RESPOSTA: Pelo narrador fazer referências à obra que está produzindo, pode-se dizer que este trecho é metalinguístico. Como exemplo: “Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim (...)”

3.       RESPOSTA: A ironia consiste em um expediente linguístico que apresenta um enunciado que, semanticamente, quer dizer o inverso do que está dito de fato, revelando uma atitude de humor sutil por parte do narrador. O trecho em que melhor se percebe esse expediente é “que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de minha cova”, já que o discurso proferido não tem nada de original ou engenhoso.

4.        RESPOSTA: O texto é narrado em primeira pessoa (1ª pessoa do singular “EU”).

5.       RESPOSTA: O narrador das “Memórias” é Brás Cubas, um defunto autor.

6.       RESPOSTA: O narrador revela seu ceticismo, isto é, sua desconfiança na existência de uma amizade verdadeira. A rememoração da teoria do humanitismo nos ajuda a entender que a amizade, nos textos de Machado de Assis, só vale a partir do momento em que há alguém que aproveite dessa amizade, isto é, o humanitismo nos revela como sendo egoístas e egocêntricos, pouco voltados para o cultivo de relações interpessoais sinceras, transparentes e abertas.

7.       RESPOSTA: Autor defunto é aquele que escrevia em vida e morreu, defunto autor é aquele que morre e, em seguida, torna-se autor (caso de Brás Cubas).

8.       RESPOSTA: A interpretação dada por Xavier só pode ser a de que após a morte, o enterro, o sepultamento (vocábulos pertencentes ao campo semântico de “campa”), o autor renasce, isto é, a morte do HOMEM Brás Cubas faz nascer o AUTOR Brás Cubas.

9.       RESPOSTA: A

10.    RESPOSTA: B

11.    RESPOSTA: E

12.    RESPOSTA: D

13.    RESPOSTA: Brás Cubas narra a sua história de modo original, de maneira ziguezagueante e digressiva, fazendo intervenções e conversando com o leitor e, principalmente, deixando de lado a linearidade da narrativa e, portanto, indo contra o que seria o “modo vulgar” de se narrar.

14.    RESPOSTA: A

15.    RESPOSTA: C

16.    RESPOSTA: O texto está estruturado na 1ª pessoa do singular, com narrador onisciente.

17.    RESPOSTA: “Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro.” Os pronomes “me” e “eu” deixam claro que é o próprio narrador quem conta a história.

18.    RESPOSTA: Como a “ideia fixa” do narrador era a de inventar um emplasto que eliminasse TODOS os males do mundo, tal emplasto seria, por certo, anti-hipocondríaco, uma vez que o hipocondríaco tende a se medicar muitas vezes mais do que o necessário. A medicação exagerada seria extinta com a invenção do emplasto, portanto.

19.    RESPOSTA: A digressão é o expediente usado pelo narrador para desviar o foco principal da história e introduzir um comentário (crítico, literário, filosófico) alheio à narrativa de base. A metalinguagem, por sua vez, consiste no fato da linguagem se debruçar sobre a própria linguagem, é quando o autor nos conta sobre o processo narrativo, ou quando nos conta acerca das ideias que o cercavam para a construção do livro dentro do próprio livro.    

20.    RESPOSTA: Esse recurso é identificado como FlashBack ou, ainda, como mera “narrativa não-linear”, nele o autor foge da estruturação clássica de “início, meio e fim” e coloca esses pontos aos acaso, sem se preocupar com a ordem. Em “Memórias póstumas de Brás Cubas”, nosso defunto autor vai nos contando sua trajetória através da morte e passando aleatoriamente pelas outras fazes da vida.
  
           


quarta-feira, 16 de abril de 2014

DESAFIO DE ESCANSÃO e METRIFICAÇÃO

Olá, queridos alunos! Lanço-lhes um desafio em 10 questões sobre Literatura Medieval, Camões e, principalmente, sobre escansão e metrificação dos versos.
Alguns de vocês já tiveram essas aulas comigo, outros ainda não. Façam de acordo com o que conseguirem.

Bons estudos! 

Texto para o teste 1.

Se eu podess’ora meu coraçon,
Senhor1, forçar e poder-vos dizer
quanta coita2 mi fazedes sofrer
por vós, cuid’eu, assi Deus mi perdon,
que haveríades doo3 de mi.
Ca4, senhor, pero me fazedes mal
e mi nunca quisestes fazer bem,
se soubéssedes quanto mal mi vem
por vós, cuid’eu, par Deus que pod’e val5,
que haveríades doo de mi.
E, pero mi havedes gran desamor,
se soubéssedes quanto mal levei
e quanta coita, des que vos amei,
por vós, cuid’eu, per boa fé, senhor,
que haveríades doo de mi.
E mal seria se nom foss’assi.
(D. Dinis. In Portal Galego da Língua: Cantigas trovadorescas. Disponível em: http://agalgz.org)
1 – Senhor: senhora. 2 – Coita: sofrimento de amor. 3 – Doo: dó. 4 – Ca: porque. 5 – Val: valer, ajudar

1. (UFPA-PA – MODELO ENEM) – Considerando-se que o texto transcrito é uma cantiga de amor, é correto afirmar, sobre esse tipo de produção poética, que
a) o trovador, de acordo com as regras do amor cortês, ao cantar a alegria de amar, na cantiga de amor, revela em seus poemas o nome da mulher amada.
b) o homem, nesse tipo de composição poética, nutre esperanças de um dia conquistar a mulher amada, que, mesmo sendo imperfeita, é objeto de desejo.
c) na lírica trovadoresca, essa modalidade de cantiga caracteriza-se por conter a confissão amorosa da mulher, que lamenta a ausência do namorado que viajou e a abandonou.
d) o trovador se coloca no lugar da mulher que sofre com a partida do amado e confessa seus sentimentos a um confidente (mãe, amiga ou algum elemento da natureza).
e) o eu lírico é um homem apaixonado que sofre e se coloca na posição de servo da “senhor”; a mulher (ou o seu amor) é vista como algo inatingível, aspecto que confere à cantiga de amor um tom lamentativo.

Texto para o teste 2.

CANTIGA SUA PARTINDO-SE
Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tam tristes, tam saüdosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

Partem tam tristes os tristes,
tam fora d’esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
(João Ruiz de Castelo Branco)

2. Assinale a alternativa incorreta sobre o poema transcrito.
a) Os versos apresentam sete sílabas métricas.
b) O esquema de rimas é: ABAB – CDCCD – ABAB.
c) O eu lírico expressa-se por meio de hipérboles.
d) O verso utilizado representa uma antecipação renascentista.
e) A linguagem desse poema nos é mais acessível que a linguagem das cantigas trovadorescas.

3. Sobre o Humanismo, identifique a alternativa falsa.
a) Em sentido amplo, designa a atitude de valorização do homem, de seus atributos e realizações.
b) Configura-se na máxima de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”.
c) Rejeita a noção do homem regido por leis sobre naturais e opõe-se ao misticismo.
d) Designa tanto uma atitude filosófica in temporal quanto um período específico da evolução da cultura ocidental.
e) Fundamenta-se na noção bíblica de que o homem é pó e ao pó retornará, e de que só a transcendência liberta o homem de sua insignificância terrena.

(UNESP-2014) As questões a seguir abordam um poema de Raul de Leoni (1895- 1926):

A ALMA DAS COUSAS SOMOS NÓS...
Dentro do eterno giro universal
Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente,
Mas, se nesse vaivém tudo parece igual
Nada mais, na verdade,
Nunca mais se repete exatamente...

Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente
Que no-las leva e traz, num círculo fatal;
O que varia é o espírito que as sente
Que é imperceptivelmente desigual,
Que sempre as vive diferentemente,
E, assim, a vida é sempre inédita, afinal...
Estado de alma em fuga pelas horas,
Tons esquivos e trêmulos, nuanças
Suscetíveis, sutis, que fogem no Íris
Da sensibilidade furta-cor...
E a nossa alma é a expressão fugitiva das cousas
E a vida somos nós, que sempre somos outros!...
Homem inquieto e vão que não repousas!
Para e escuta:
Se as cousas têm espírito, nós somos
Esse espírito efêmero das cousas,
Volúvel e diverso,
Variando, instante a instante, intimamente,
E eternamente,
Dentro da indiferença do Universo!...
(Luz mediterrânea, 1965.)

4. Embora pareça constituído de versos livres modernistas, o poema em questão ainda segue a versificação medida, combinando versos de diferentes extensões, com predomínio dos de doze e dez sílabas métricas. Assinale a alternativa que indica, na primeira estrofe, pela ordem em que surgem, os versos de dez sílabas métricas, denominados decassílabos.

a) 1 e 5.
b) 3 e 4.
c) 1, 2 e 3.
d) 2 e 3.
e) 1, 3 e 5

5. Considerando o eixo temático do poema e o modo como é desenvolvido, verifica-se que nele se faz uma reflexão de fundo

a) estético.
b) político.
c) religioso.
d) filosófico.
e) científico

(UNESP - 2012) Instrução: As questões de números 6 e 7 tomam por base um poema de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810).

18

Não vês aquele velho respeitável,
que à muleta encostado,
apenas mal se move e mal se arrasta?
Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo,
o tempo arrebatado,
que o mesmo bronze gasta!
Enrugaram-se as faces e perderam
seus olhos a viveza:
voltou-se o seu cabelo em branca neve;
já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,
nem tem uma beleza
das belezas que teve.
Assim também serei, minha Marília,
daqui a poucos anos,
que o ímpio tempo para todos corre.
Os dentes cairão e os meus cabelos.
Ah! sentirei os danos,
que evita só quem morre.
Mas sempre passarei uma velhice
muito menos penosa.
Não trarei a muleta carregada,
descansarei o já vergado corpo
na tua mão piedosa,
na tua mão nevada.
As frias tardes, em que negra nuvem
os chuveiros não lance,
irei contigo ao prado florescente:
aqui me buscarás um sítio ameno,
onde os membros descanse,
e ao brando sol me aquente.
Apenas me sentar, então, movendo
os olhos por aquela
vistosa parte, que ficar fronteira,
apontando direi: — Ali falamos,
ali, ó minha bela,
te vi a vez primeira.
Verterão os meus olhos duas fontes,
nascidas de alegria;
farão teus olhos ternos outro tanto;
então darei, Marília, frios beijos 
na mão formosa e pia,
que me limpar o pranto.
Assim irá, Marília, docemente
meu corpo suportando
do tempo desumano a dura guerra.
Contente morrerei, por ser Marília
quem, sentida, chorando
meus baços olhos cerra.
(Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu e mais poesias. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1982.)

06. Assinale a alternativa que indica a ordem em que os versos de dez e de seis sílabas se sucedem nas oito estrofes do poema.

(A) 6, 10, 6, 6, 10, 10.
(B) 10, 6, 10, 10, 6, 6.
(C) 10, 10, 6, 10, 6, 6.
(D) 10, 6, 10, 6, 10, 6.
(E) 6, 10, 6, 10, 6, 6

07. Marque a alternativa em que o verso apresenta acento tônico na segunda e na sexta sílabas:

(A) o tempo arrebatado.
(B) das belezas que teve.
(C) daqui a poucos anos.
(D) e ao brando sol me aquente.
(E) na mão formosa e pia.

(UNESP - 1998) INSTRUÇÃO: As questões de números 07 a 10 tomam por base uma passagem do Canto III de Os Lusíadas, de Luís de Camões (1524?-1580), um fragmento do poema épico Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima (1893-1953), e a letra do fado moderno português Formosa Inês, de Rosa Lobato de Faria, gravado pelo intérprete moçambicano Paulo Bragança.

EPISÓDIO DE INÊS DE CASTRO
Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste, e di[g]no da memória
Que do sepulcro os homens desenterra,
Que de[s]pois de ser morta foi Rainha.

Tu só, tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fru[i]to,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus formosos olhos nunca enxu[i]to,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. in: Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1963, p. 86-7.

MUSA INÊS
Estavas linda Inês posta em repouso
Mas aparentemente bela Inês;
Pois de teus olhos lindos já não ouso
Fitar o torvelinho que não vês,
O suceder dos rostos cobiçoso
Passando sem descanso sob a tez;
Que eram tudo memórias fugidias,
Máscaras sotopostas que não vias.

Tu, só tu, puro amor e glória crua,
Não sabes o que à face traduzidas.
Estavas, linda Inês, aos olhos nua,
Transparente no leito em que jazias.
Que a mente costumeira não conclua,
Nem conclua da sombra que fazias,
Pois, Inês em repouso é movimento,
Nada em Inês é inanimado e lento.

As fontes dulçurosas desta ilha
Promanam da rainha viva-morta;
O punhal que a feriu é doce tília
De que fez a atra brisa santa porta,
E em cujos ramos suave se enrodilha,
E segredos de amor ao céu transporta.
Não há na vida amor que em vão termine,
Nem vão esquecimento que o destine.
LIMA, Jorge de. Invenção de Orfeu.in: Poesia – 3. Rio de Janeiro: INL/Aguilar, 1974, p.97.

FORMOSA INÊS
Mário Pacheco / Rosa Lobato de Faria

Antiga como a sina dos amantes,
A audácia de morder o infinito,
Acesa pelas noites delirantes,
Paixão que se fez lenda e se fez mito.

Depois foram razões que o Reino tece,
Foi o dia mais triste, o mais maldito,
A espada ao alto erguida e foi a prece,
Amor desfeito em sangue... e foi o grito.

D. Pedro, desvairado brada e clama,
Leva da terra em terra a sua amada,
Não tem morada certa, pois quem ama,
Saudade tem por única morada.

Da morta, fez rainha, porque é louco,
Porque é amante e rei e português,
E eu que te cantei e sou tão pouco,
Também te beijo a mão formosa Inês.
in: O Mar – A Música dos Povos de Língua Portuguesa. São Paulo: Oboré, ENL CD001, 1997.

07. A morte de Inês de Castro, no ano de 1355, e as circunstâncias trágicas que a envolvem têm sido um dos temas amorosos mais caros aos escritores portugueses, justamente por simbolizar aspectos radicais do sentimentalismo lusitano. Inês era uma formosa dama castelhana, que acompanhara a infanta D. Constança quando esta chegou a Portugal para casar-se com o príncipe-herdeiro D. Pedro. Já casado com Constança,
Pedro se apaixona por Inês, o que desperta iras e intrigas na Corte. Essa situação se complica após a morte de
Constança, e culmina com o assassinato de Inês por ordem do rei D. Afonso IV, pai de D. Pedro. Tempos depois, já rei de Portugal, D. Pedro realiza cruel vingança contra os assassinos de sua amada, e jura que era casado clandestinamente com D. Inês. Tomando por base esses fatos históricos e lendários, releia atentamente a letra do fado Formosa Inês e, a seguir,

a) aplicando-se em integrar seu melhor desempenho de análise e capacidade de síntese, e tendo em vista o contexto indicado acima, interprete o segundo verso da última estrofe;

b) como parte da resposta anterior, aponte o efeito significativo dado pela repetição do conectivo “e”.

08. Considerando que a poesia do classicismo português é altamente simétrica e regular, releia as estrofes de Camões e Jorge de Lima e, a seguir:

a) Aponte, em Invenção de Orfeu, dois processos que revelem a mesma simetria e regularidade observável no poema camoniano. Utilize, para isso, os seus conhecimentos em escansão poética e em

b) Indique, em Se dizem, fero Amor, que a sede tua (de Camões) e Estavas, linda Inês, aos olhos nua, (de Jorge de Lima), quais acentos de intensidade (tonicidade fonética) proporcionam o mesmo ritmo a esses versos.

09. As estrofes de Camões apresentam quatro palavras com uma letra grafada entre colchetes: di[g]no, de[s]pois, fru[i]to e enxu[i]to. Com esse proceder, o editor chama nossa atenção para o fato de podermos ler digno ou dino, depois ou despoisfruto ou fruito, enxuto ou enxuito, variantes que coexistiram durante muito tempo. A evolução da Língua Portuguesa culta consagrou as formas digno, depois, fruto e enxuto embora, no falar de algumas regiões, ainda se conservem despois, fruito, enxuito e escuito. Com base neste comentário:

a) Responda quais as variantes – fruto ou fru[i]to, enxuto ou enxu[i]to – foram efetivamente utilizadas por Camões na última estrofe.

b) Justifique sua resposta apontando o procedimento versificatório (escansão poética) que lhe permitiu chegar a essa conclusão.

10. O infortúnio amoroso de D. Pedro e Inês de Castro, como já vimos, atravessa o tempo por obra de grandes escritores portugueses (além de brasileiros, espanhóis e franceses). Diversamente interpretado, se faz presente em todas as épocas e gêneros literários, às vezes tendo-se como fonte as antigas crônicas de Lopes de Ayala, Fernão Lopes e Rui de Pina, às vezes tendo como inspiração obras de outros clássicos portugueses.
Camões deve ter-se inspirado nas trovas de Garcia de Resende (Cancioneiro Geral, 1516) para reanimar o tema nessa passagem de Os Lusíadas. Com base nesta informação, releia atentamente os textos de Camões e Jorge de Lima e, a seguir:

a) Explique por que é possível concluir que o escritor brasileiro Jorge de Lima teve como fonte a abordagem do tema feita por Luís de Camões e não por outro escritor ou historiador.

b) Interprete o sentido figurado do signo “repouso” no primeiro verso de Jorge de Lima.