Olá, queridos alun@s! Como prometido, aí vai uma lista com vários exercícios que podem ser úteis na complementação da leitura do livro Memórias póstumas de Brás Cubas, de nosso ilustre Machado de Assis, o mais popular "Machadão", aproveito também para indicar-lhes o link do YouTube para o filme homônimo: https://www.youtube.com/watch?v=ap-SzXEiPGc.
Façam bom proveito!
1. “A narrativa machadiana em Dom Casmurro e Memórias póstumas de Brás Cubas obedece
à tradição da narrativa linear, de acordo com a passagem do tempo no relógio,
pela qual o leitor observa a evolução da vida dos personagens, desde o
nascimento ou a idade tenra, até a velhice, passando antes pela juventude,
idade madura e morte.”
Concorde ou não com esse comentário, mas justifique sua resposta.
Óbito
do autor
Algum tempo hesitei se devia abrir
estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o
meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo
nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira
é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem
a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e
mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no
cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da
tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de
Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro,
possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze
amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que
chovia - peneirava - uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e
tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta
engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de minha cova: - "Vós,
que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece
estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm
honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens
escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má
que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor
ao nosso ilustre finado". ASSIS,
Machado de. Memórias póstumas de Brás
Cubas. São Paulo, Abril Cultural, 1978. P. 15.
Glossário - campa: sepulcro; galante: garboso,
gracioso.
2.
Explique porque se pode dizer que esse trecho é metalinguístico.
3. Explicite
um trecho em que se encontre a famosa “ironia machadiana”.
4. Em que
pessoa é narrado o texto?
5. Quem é o
narrador?
6. Ao dizer
“Onze amigos!”, o narrador mostra que é pequeno o número de pessoas com que se
pode realmente contar. Isso revela uma certa atitude do narrador diante da
amizade e das relações interpessoais. Que atitude é essa?
7. Qual a diferença que se pode estabelecer entre
“autor defunto” e “defunto autor”?
8. (FUVEST - Adaptada) Imagine
que você tenha uma prova do livro Memórias
póstumas de Brás Cubas e que não
tenha entendido a seguinte metáfora “a
campa foi outro berço”. Xavier, seu amigo de longa data, leu e interpretou
muito bem, segundo o professor, o texto.
Sendo
assim, demonstre a interpretação dada por Xavier para a metáfora “a campa foi
outro berço”.
9.
(ENEM) No trecho a seguir, o narrador, ao descrever a personagem, critica
sutilmente um outro estilo de época: o Romantismo.
Naquele tempo contava apenas
uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura de nossa
raça e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a
primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em
que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas
também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era
bonita, fresca, saía das mãos da natureza cheia daquele feitiço, precário e
eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da
criação.
ASSIS, Machado de. Memórias
póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson, 57.
9. A frase do texto em que se
percebe a crítica do narrador ao Romantismo está transcrita na alternativa:
a) “... o autor sobredoura a realidade
e fecha
os olhos às sardas e espinhas ...”
b) “... era talvez a mais
atrevida criatura da nossa raça ...”
c) “Era bonita, fresca, saía das
mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, ...”
d) “Naquele tempo contava apenas
uns quinze ou dezesseis anos ...”
e) “... o indivíduo passa a outro
indivíduo, para os fins secretos da criação.”
10.
Quincas Borba, personagem criado por Machado de Assis, era autor de Humanitas,
filosofia única, eterna, comum, indivisível e indestrutível, que pregava a
eterna luta do homem pela sobrevivência, ressaltando o predomínio dos mais
espertos.
Existe uma máxima sobre a qual
ele resume suas explanações sobre essa filosofia. Assinale-a.
a) Devagar se vai ao longe.
b) Ao vencedor, as batatas.
c) Quem tudo quer tudo perde.
d) O essencial é invisível para os
olhos.
e) Não se jogam pérolas aos
porcos.
AUXILIARES
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio
ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha
morte. Suposto que o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas
considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou
propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi
outro berço; o segundo é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.
Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis
11. Essa é a abertura do famoso romance de Machado de Assis. Dentro
desse contexto, já dá para se ver o tipo de narrativa que será explorada.
Assinale a alternativa correta a esse respeito.
a) A narrativa decorre
de forma cronologicamente correta, de acordo com a passagem do tempo:
infância, juventude, maturidade e velhice.
b) A linearidade das
ações apresenta cenas de suspense, dado o comportamento
inusitado dos personagens.
c) Não há como prever
o final da narrativa, já que seu enredo é, propositadamente, complicado.
d) A ação terá, como
cenário, os diversos centros cosmopolitas do mundo.
e) O autor usa o
recurso do
flashback devido a sua intenção de iniciar o romance pelo
“fim”.
12. Em relação à questão anterior, infere-se que a linguagem dispõe
de um recurso enriquecedor: a disposição das palavras no espaço frasal. Sendo
assim, que tipo de leitura pode-se fazer dessas duas expressões: “autor
defunto” e “defunto autor”?
a) A colocação da
palavra defunto após a palavra autor leva-nos a pensar que o segundo elemento
está em fase final de carreira.
b) Defunto autor
remete à ideia de que a pessoa irá escrever suas memórias dentro
de um cemitério.
c) Ambas as expressões
transmitem a mesma ideia, com iguais valores semânticos.
d) A expressão defunto
autor aparece de forma metaforizada, original, privilegiando uma nova forma de
narração autobiográfica.
e) Ambas as
construções não têm expressão na obra biográfica de Machado de Assis.
13. Considerando o que você já leu e/ou viu sobre o
livro Memórias póstumas de Brás Cubas e atentando ainda para as considerações
que Brás Cubas faz no trecho lido quanto à maneira de começar a escrever seu
livro, responda: Brás Cubas contou sua história pelo “uso vulgar” ou ele fez
de forma diferente?
Marcela
amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai logo
que teve aragem dos quinze contos sobressaltou-se deveras; achou que o caso
excedia as raias de um capricho juvenil.
—
Dessa vez, disse ele, vais para Europa, vais cursar uma Universidade,
provavelmente Coimbra, quero-te homem sério e não arruador e não gatuno.
E
como eu fizesse um gesto de espanto:
—
Gatuno, sim senhor, não é outra coisa um filho que me faz isso.
Machado
de Assis – Memórias póstumas de Brás
Cubas
14. De acordo com essa passagem
da obra, pode-se antecipar a visão que Machado de Assis tinha sobre as pessoas
e sobre a sociedade. A esse respeito, assinale a alternativa correta.
a) O amor é fruto de interesse e
compõe o pilar das instituições hipócritas.
b) O amor, se sincero, supera
todas as barreiras, inclusive as financeiras.
c) O caráter autoritarista moldava
as relações familiares, principalmente entre pai e filho.
d) Havia medo de
que a marginalidade envolvesse os jovens daquela época.
e) O amor era glorificado e
apontado como o único caminho para redimir as
pessoas.
15. Com
efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-me uma ideia no
trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a
pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer.
Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os
braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.
Memórias
póstumas de Brás Cubas –
Machado de Assis
Sobre o texto mostrado, pode-se
dizer que:
a) o autor faz uma abordagem
superficial da situação.
b) o autor preocupa-se com os
detalhes, por meio de minuciosa descrição.
c) o autor dá relevância a outras
circunstâncias, negligenciando o foco do assunto.
d) o autor não mostra preocupação
com o discernimento do leitor, pois apenas sugere situações.
e) contempla a si
próprio, num ritual egocêntrico e narcisista.
Capítulo
III
O
emplasto
Com
efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia
no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear,
a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu
deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços
e as pernas, até formar um X: decifra-me ou devoro-te.
Essa
ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto
anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na
petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse
resultado, verdadeiramente cristão.
(...)
Machado
de Assis – Memórias póstumas de Brás
Cubas
16.
Relativamente ao trecho lido, responda em que tipo de foco narrativo ele está
estruturado?
17.
Destaque uma frase que contenha palavra que justifique sua resposta.
18.
Traduza a expressão anti-hipocondríaco, que aparece no 2º parágrafo.
19. Memórias póstumas de Brás Cubas utiliza
recursos estilísticos extraordinários, como a digressão e a metalinguagem.
Defina-os.
20.
A cronologia tradicional dos fatos, dentro da narrativa, faz com que a assimilação
do enredo seja mais fácil. Machado de Assis, em Memórias póstumas de Brás
Cubas, rompe essa tradição e opta por um início “às avessas”. Identifique
esse recurso estilístico e explique-o, considerando a obra citada.
RESPOSTAS:
1.
RESPOSTA: A
narrativa machadiana, diferentemente do apontado pelo trecho acima, não obedece
à tradição da narrativa, muito pelo contrário. Machado de Assis, por meio de um
texto ziguezagueante, apoiado muitas vezes apenas na memória do narrador, traz
uma literatura que faz saltos, que deixa espaços a serem preenchidos pelo
leitor.
2.
RESPOSTA: Pelo narrador fazer
referências à obra que está produzindo, pode-se dizer que este trecho é
metalinguístico. Como exemplo: “Algum tempo hesitei se devia abrir estas
memórias pelo princípio ou pelo fim (...)”
3.
RESPOSTA: A ironia consiste em um
expediente linguístico que apresenta um enunciado que, semanticamente, quer
dizer o inverso do que está dito de fato, revelando uma atitude de humor sutil
por parte do narrador. O trecho em que melhor se percebe esse expediente é “que
levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia
no discurso que proferiu à beira de minha cova”, já que o discurso proferido
não tem nada de original ou engenhoso.
4.
RESPOSTA:
O texto é narrado em primeira pessoa (1ª pessoa do singular “EU”).
5.
RESPOSTA: O narrador das “Memórias” é
Brás Cubas, um defunto autor.
6.
RESPOSTA: O narrador revela seu
ceticismo, isto é, sua desconfiança na existência de uma amizade verdadeira. A
rememoração da teoria do humanitismo nos ajuda a entender que a amizade,
nos textos de Machado de Assis, só vale a partir do momento em que há alguém
que aproveite dessa amizade, isto é, o humanitismo nos revela como sendo
egoístas e egocêntricos, pouco voltados para o cultivo de relações interpessoais
sinceras, transparentes e abertas.
7.
RESPOSTA: Autor defunto é aquele que
escrevia em vida e morreu, defunto autor é aquele que morre e, em seguida,
torna-se autor (caso de Brás Cubas).
8.
RESPOSTA: A interpretação dada por
Xavier só pode ser a de que após a morte, o enterro, o sepultamento (vocábulos
pertencentes ao campo semântico de “campa”), o autor renasce, isto é, a morte
do HOMEM Brás Cubas faz nascer o AUTOR Brás Cubas.
9.
RESPOSTA: A
10.
RESPOSTA: B
11.
RESPOSTA: E
12.
RESPOSTA: D
13.
RESPOSTA:
Brás Cubas narra a sua história de modo original, de maneira ziguezagueante e
digressiva, fazendo intervenções e conversando com o leitor e, principalmente,
deixando de lado a linearidade da narrativa e, portanto, indo contra o que
seria o “modo vulgar” de se narrar.
14. RESPOSTA: A
15.
RESPOSTA: C
16.
RESPOSTA: O texto está estruturado na
1ª pessoa do singular, com narrador onisciente.
17.
RESPOSTA: “Com efeito, um dia de
manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no
trapézio que eu tinha no cérebro.” Os pronomes “me” e “eu” deixam claro que é o próprio narrador quem
conta a história.
18.
RESPOSTA:
Como a “ideia fixa” do narrador era a de inventar um emplasto que eliminasse
TODOS os males do mundo, tal emplasto seria, por certo, anti-hipocondríaco, uma
vez que o hipocondríaco tende a se medicar muitas vezes mais do que o
necessário. A medicação exagerada seria extinta com a invenção do emplasto,
portanto.
19.
RESPOSTA: A
digressão é o expediente usado pelo narrador para desviar o foco principal da
história e introduzir um comentário (crítico, literário, filosófico) alheio à
narrativa de base. A metalinguagem, por sua vez, consiste no fato da linguagem
se debruçar sobre a própria linguagem, é quando o autor nos conta sobre o
processo narrativo, ou quando nos conta acerca das ideias que o cercavam para a
construção do livro dentro do próprio livro.
20.
RESPOSTA: Esse
recurso é identificado como FlashBack ou, ainda, como mera “narrativa
não-linear”, nele o autor foge da estruturação clássica de “início, meio e fim”
e coloca esses pontos aos acaso, sem se preocupar com a ordem. Em “Memórias
póstumas de Brás Cubas”, nosso defunto autor vai nos contando sua trajetória
através da morte e passando aleatoriamente pelas outras fazes da vida.