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quarta-feira, 16 de abril de 2014

DESAFIO DE ESCANSÃO e METRIFICAÇÃO

Olá, queridos alunos! Lanço-lhes um desafio em 10 questões sobre Literatura Medieval, Camões e, principalmente, sobre escansão e metrificação dos versos.
Alguns de vocês já tiveram essas aulas comigo, outros ainda não. Façam de acordo com o que conseguirem.

Bons estudos! 

Texto para o teste 1.

Se eu podess’ora meu coraçon,
Senhor1, forçar e poder-vos dizer
quanta coita2 mi fazedes sofrer
por vós, cuid’eu, assi Deus mi perdon,
que haveríades doo3 de mi.
Ca4, senhor, pero me fazedes mal
e mi nunca quisestes fazer bem,
se soubéssedes quanto mal mi vem
por vós, cuid’eu, par Deus que pod’e val5,
que haveríades doo de mi.
E, pero mi havedes gran desamor,
se soubéssedes quanto mal levei
e quanta coita, des que vos amei,
por vós, cuid’eu, per boa fé, senhor,
que haveríades doo de mi.
E mal seria se nom foss’assi.
(D. Dinis. In Portal Galego da Língua: Cantigas trovadorescas. Disponível em: http://agalgz.org)
1 – Senhor: senhora. 2 – Coita: sofrimento de amor. 3 – Doo: dó. 4 – Ca: porque. 5 – Val: valer, ajudar

1. (UFPA-PA – MODELO ENEM) – Considerando-se que o texto transcrito é uma cantiga de amor, é correto afirmar, sobre esse tipo de produção poética, que
a) o trovador, de acordo com as regras do amor cortês, ao cantar a alegria de amar, na cantiga de amor, revela em seus poemas o nome da mulher amada.
b) o homem, nesse tipo de composição poética, nutre esperanças de um dia conquistar a mulher amada, que, mesmo sendo imperfeita, é objeto de desejo.
c) na lírica trovadoresca, essa modalidade de cantiga caracteriza-se por conter a confissão amorosa da mulher, que lamenta a ausência do namorado que viajou e a abandonou.
d) o trovador se coloca no lugar da mulher que sofre com a partida do amado e confessa seus sentimentos a um confidente (mãe, amiga ou algum elemento da natureza).
e) o eu lírico é um homem apaixonado que sofre e se coloca na posição de servo da “senhor”; a mulher (ou o seu amor) é vista como algo inatingível, aspecto que confere à cantiga de amor um tom lamentativo.

Texto para o teste 2.

CANTIGA SUA PARTINDO-SE
Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tam tristes, tam saüdosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

Partem tam tristes os tristes,
tam fora d’esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
(João Ruiz de Castelo Branco)

2. Assinale a alternativa incorreta sobre o poema transcrito.
a) Os versos apresentam sete sílabas métricas.
b) O esquema de rimas é: ABAB – CDCCD – ABAB.
c) O eu lírico expressa-se por meio de hipérboles.
d) O verso utilizado representa uma antecipação renascentista.
e) A linguagem desse poema nos é mais acessível que a linguagem das cantigas trovadorescas.

3. Sobre o Humanismo, identifique a alternativa falsa.
a) Em sentido amplo, designa a atitude de valorização do homem, de seus atributos e realizações.
b) Configura-se na máxima de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”.
c) Rejeita a noção do homem regido por leis sobre naturais e opõe-se ao misticismo.
d) Designa tanto uma atitude filosófica in temporal quanto um período específico da evolução da cultura ocidental.
e) Fundamenta-se na noção bíblica de que o homem é pó e ao pó retornará, e de que só a transcendência liberta o homem de sua insignificância terrena.

(UNESP-2014) As questões a seguir abordam um poema de Raul de Leoni (1895- 1926):

A ALMA DAS COUSAS SOMOS NÓS...
Dentro do eterno giro universal
Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente,
Mas, se nesse vaivém tudo parece igual
Nada mais, na verdade,
Nunca mais se repete exatamente...

Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente
Que no-las leva e traz, num círculo fatal;
O que varia é o espírito que as sente
Que é imperceptivelmente desigual,
Que sempre as vive diferentemente,
E, assim, a vida é sempre inédita, afinal...
Estado de alma em fuga pelas horas,
Tons esquivos e trêmulos, nuanças
Suscetíveis, sutis, que fogem no Íris
Da sensibilidade furta-cor...
E a nossa alma é a expressão fugitiva das cousas
E a vida somos nós, que sempre somos outros!...
Homem inquieto e vão que não repousas!
Para e escuta:
Se as cousas têm espírito, nós somos
Esse espírito efêmero das cousas,
Volúvel e diverso,
Variando, instante a instante, intimamente,
E eternamente,
Dentro da indiferença do Universo!...
(Luz mediterrânea, 1965.)

4. Embora pareça constituído de versos livres modernistas, o poema em questão ainda segue a versificação medida, combinando versos de diferentes extensões, com predomínio dos de doze e dez sílabas métricas. Assinale a alternativa que indica, na primeira estrofe, pela ordem em que surgem, os versos de dez sílabas métricas, denominados decassílabos.

a) 1 e 5.
b) 3 e 4.
c) 1, 2 e 3.
d) 2 e 3.
e) 1, 3 e 5

5. Considerando o eixo temático do poema e o modo como é desenvolvido, verifica-se que nele se faz uma reflexão de fundo

a) estético.
b) político.
c) religioso.
d) filosófico.
e) científico

(UNESP - 2012) Instrução: As questões de números 6 e 7 tomam por base um poema de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810).

18

Não vês aquele velho respeitável,
que à muleta encostado,
apenas mal se move e mal se arrasta?
Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo,
o tempo arrebatado,
que o mesmo bronze gasta!
Enrugaram-se as faces e perderam
seus olhos a viveza:
voltou-se o seu cabelo em branca neve;
já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,
nem tem uma beleza
das belezas que teve.
Assim também serei, minha Marília,
daqui a poucos anos,
que o ímpio tempo para todos corre.
Os dentes cairão e os meus cabelos.
Ah! sentirei os danos,
que evita só quem morre.
Mas sempre passarei uma velhice
muito menos penosa.
Não trarei a muleta carregada,
descansarei o já vergado corpo
na tua mão piedosa,
na tua mão nevada.
As frias tardes, em que negra nuvem
os chuveiros não lance,
irei contigo ao prado florescente:
aqui me buscarás um sítio ameno,
onde os membros descanse,
e ao brando sol me aquente.
Apenas me sentar, então, movendo
os olhos por aquela
vistosa parte, que ficar fronteira,
apontando direi: — Ali falamos,
ali, ó minha bela,
te vi a vez primeira.
Verterão os meus olhos duas fontes,
nascidas de alegria;
farão teus olhos ternos outro tanto;
então darei, Marília, frios beijos 
na mão formosa e pia,
que me limpar o pranto.
Assim irá, Marília, docemente
meu corpo suportando
do tempo desumano a dura guerra.
Contente morrerei, por ser Marília
quem, sentida, chorando
meus baços olhos cerra.
(Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu e mais poesias. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1982.)

06. Assinale a alternativa que indica a ordem em que os versos de dez e de seis sílabas se sucedem nas oito estrofes do poema.

(A) 6, 10, 6, 6, 10, 10.
(B) 10, 6, 10, 10, 6, 6.
(C) 10, 10, 6, 10, 6, 6.
(D) 10, 6, 10, 6, 10, 6.
(E) 6, 10, 6, 10, 6, 6

07. Marque a alternativa em que o verso apresenta acento tônico na segunda e na sexta sílabas:

(A) o tempo arrebatado.
(B) das belezas que teve.
(C) daqui a poucos anos.
(D) e ao brando sol me aquente.
(E) na mão formosa e pia.

(UNESP - 1998) INSTRUÇÃO: As questões de números 07 a 10 tomam por base uma passagem do Canto III de Os Lusíadas, de Luís de Camões (1524?-1580), um fragmento do poema épico Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima (1893-1953), e a letra do fado moderno português Formosa Inês, de Rosa Lobato de Faria, gravado pelo intérprete moçambicano Paulo Bragança.

EPISÓDIO DE INÊS DE CASTRO
Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste, e di[g]no da memória
Que do sepulcro os homens desenterra,
Que de[s]pois de ser morta foi Rainha.

Tu só, tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fru[i]to,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus formosos olhos nunca enxu[i]to,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. in: Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1963, p. 86-7.

MUSA INÊS
Estavas linda Inês posta em repouso
Mas aparentemente bela Inês;
Pois de teus olhos lindos já não ouso
Fitar o torvelinho que não vês,
O suceder dos rostos cobiçoso
Passando sem descanso sob a tez;
Que eram tudo memórias fugidias,
Máscaras sotopostas que não vias.

Tu, só tu, puro amor e glória crua,
Não sabes o que à face traduzidas.
Estavas, linda Inês, aos olhos nua,
Transparente no leito em que jazias.
Que a mente costumeira não conclua,
Nem conclua da sombra que fazias,
Pois, Inês em repouso é movimento,
Nada em Inês é inanimado e lento.

As fontes dulçurosas desta ilha
Promanam da rainha viva-morta;
O punhal que a feriu é doce tília
De que fez a atra brisa santa porta,
E em cujos ramos suave se enrodilha,
E segredos de amor ao céu transporta.
Não há na vida amor que em vão termine,
Nem vão esquecimento que o destine.
LIMA, Jorge de. Invenção de Orfeu.in: Poesia – 3. Rio de Janeiro: INL/Aguilar, 1974, p.97.

FORMOSA INÊS
Mário Pacheco / Rosa Lobato de Faria

Antiga como a sina dos amantes,
A audácia de morder o infinito,
Acesa pelas noites delirantes,
Paixão que se fez lenda e se fez mito.

Depois foram razões que o Reino tece,
Foi o dia mais triste, o mais maldito,
A espada ao alto erguida e foi a prece,
Amor desfeito em sangue... e foi o grito.

D. Pedro, desvairado brada e clama,
Leva da terra em terra a sua amada,
Não tem morada certa, pois quem ama,
Saudade tem por única morada.

Da morta, fez rainha, porque é louco,
Porque é amante e rei e português,
E eu que te cantei e sou tão pouco,
Também te beijo a mão formosa Inês.
in: O Mar – A Música dos Povos de Língua Portuguesa. São Paulo: Oboré, ENL CD001, 1997.

07. A morte de Inês de Castro, no ano de 1355, e as circunstâncias trágicas que a envolvem têm sido um dos temas amorosos mais caros aos escritores portugueses, justamente por simbolizar aspectos radicais do sentimentalismo lusitano. Inês era uma formosa dama castelhana, que acompanhara a infanta D. Constança quando esta chegou a Portugal para casar-se com o príncipe-herdeiro D. Pedro. Já casado com Constança,
Pedro se apaixona por Inês, o que desperta iras e intrigas na Corte. Essa situação se complica após a morte de
Constança, e culmina com o assassinato de Inês por ordem do rei D. Afonso IV, pai de D. Pedro. Tempos depois, já rei de Portugal, D. Pedro realiza cruel vingança contra os assassinos de sua amada, e jura que era casado clandestinamente com D. Inês. Tomando por base esses fatos históricos e lendários, releia atentamente a letra do fado Formosa Inês e, a seguir,

a) aplicando-se em integrar seu melhor desempenho de análise e capacidade de síntese, e tendo em vista o contexto indicado acima, interprete o segundo verso da última estrofe;

b) como parte da resposta anterior, aponte o efeito significativo dado pela repetição do conectivo “e”.

08. Considerando que a poesia do classicismo português é altamente simétrica e regular, releia as estrofes de Camões e Jorge de Lima e, a seguir:

a) Aponte, em Invenção de Orfeu, dois processos que revelem a mesma simetria e regularidade observável no poema camoniano. Utilize, para isso, os seus conhecimentos em escansão poética e em

b) Indique, em Se dizem, fero Amor, que a sede tua (de Camões) e Estavas, linda Inês, aos olhos nua, (de Jorge de Lima), quais acentos de intensidade (tonicidade fonética) proporcionam o mesmo ritmo a esses versos.

09. As estrofes de Camões apresentam quatro palavras com uma letra grafada entre colchetes: di[g]no, de[s]pois, fru[i]to e enxu[i]to. Com esse proceder, o editor chama nossa atenção para o fato de podermos ler digno ou dino, depois ou despoisfruto ou fruito, enxuto ou enxuito, variantes que coexistiram durante muito tempo. A evolução da Língua Portuguesa culta consagrou as formas digno, depois, fruto e enxuto embora, no falar de algumas regiões, ainda se conservem despois, fruito, enxuito e escuito. Com base neste comentário:

a) Responda quais as variantes – fruto ou fru[i]to, enxuto ou enxu[i]to – foram efetivamente utilizadas por Camões na última estrofe.

b) Justifique sua resposta apontando o procedimento versificatório (escansão poética) que lhe permitiu chegar a essa conclusão.

10. O infortúnio amoroso de D. Pedro e Inês de Castro, como já vimos, atravessa o tempo por obra de grandes escritores portugueses (além de brasileiros, espanhóis e franceses). Diversamente interpretado, se faz presente em todas as épocas e gêneros literários, às vezes tendo-se como fonte as antigas crônicas de Lopes de Ayala, Fernão Lopes e Rui de Pina, às vezes tendo como inspiração obras de outros clássicos portugueses.
Camões deve ter-se inspirado nas trovas de Garcia de Resende (Cancioneiro Geral, 1516) para reanimar o tema nessa passagem de Os Lusíadas. Com base nesta informação, releia atentamente os textos de Camões e Jorge de Lima e, a seguir:

a) Explique por que é possível concluir que o escritor brasileiro Jorge de Lima teve como fonte a abordagem do tema feita por Luís de Camões e não por outro escritor ou historiador.

b) Interprete o sentido figurado do signo “repouso” no primeiro verso de Jorge de Lima.